segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Dia Internacional da Solidariedade Humana


O Secretário Geral da ONU adverte para o aumento da pobreza, fruto da situação económica mundial
Hoje celebra-se o Dia Internacional da Solidariedade Humana, data instituída pela Organização das Nações Unidas em 2005, por ocasião da celebração da primeira Década das Nações Unidas para a Erradicação da Pobreza (1997-2006).
Para Ban Ki-Moon, secretário geral da ONU, “o Dia Internacional da Solidariedade Humana salienta a importância de agirmos, unidos, a favor das pessoas mais vulneráveis da sociedade. Uma das expressões mais profundas deste princípio é a Declaração do Milénio, em que os Estados-membros das Nações Unidas incluem a solidariedade como um dos valores fundamentais que devem estar subjacentes às relações internacionais no século XXI”.
Apesar de haver sinais positivos de evolução, como o aumento da escolarização e o número de raparigas que frequentam a escola e um maior controlo das doenças, a verdade é que “a crise económica mundial lançou na pobreza cerca de 64 milhões de pessoas e há mais 30 milhões de desempregados, desde 2007”.
Ban Ki-Moon termina a sua mensagem para este dia com uma palavra de alento: “Neste Dia Internacional da Solidariedade Humana, comprometamo-nos, como nações e como indivíduos, a estender a mão aos nossos vizinhos. Vivamos a nossa vida diária manifestando a nossa solidariedade com os menos favorecidos – os pobres, os doentes e idosos, as vítimas de violência, de discriminação ou de violação dos seus direitos – e construamos um mundo melhor para todos”.
20 de Dezembro de 2010
http://mulher.sapo.pt/actualidade/noticias/dia-internacional-da-solidarie-1114385.html

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A extrema pobreza aumentou na última década


O número de pessoas que vive em extrema pobreza aumentou em três milhões por ano na última década, atingindo os 421 milhões em 2007, duas vezes mais do que em 1980, segundo a Organização das Nações Unidas.
Os dados fazem parte do relatório de 2010 da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED) sobre os países mais pobres do Mundo.
Com o título "Rumo a uma Nova Arquitectura Internacional do Desenvolvimento para os PMAs" (países menos avançados), o documento hoje, quinta-feira, divulgado em Genebra surge a poucos meses da conferência da ONU sobre os países mais pobres, que se realiza em maio de 2011, em Istambul.
O relatório faz um balanço a dez anos da evolução dos 49 países mais pobres do Mundo, grupo que inclui Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A maior parte dos países é de África e, em termos gerais, os considerados mais pobres pela CNUCED são também os que a ONU classifica com mais baixo índice de desenvolvimento humano.
Nele se salienta que, embora os 49 países tenham resistido à recessão, estão ainda enredados em ciclos de crescimento e retracção, sugerindo-se no documento que devem modernizar e diversificar as suas economias para reduzir a pobreza de forma sustentável.
"As perspectivas (dos PMAs) de médio prazo são motivo de preocupação", diz o relatório, que considera que mesmo os períodos de grande crescimento económico pouco contribuíram para melhorar os padrões de vida da população.
Durante os anos de expansão (até 2007) os PMAs tiveram taxas médias de crescimento de 7% ao ano, mas aumentou a sua dependência e em mais de metade dos 49 países declinou a participação da indústria de transformação no valor acrescentado.
Também, ainda segundo o documento, houve concentração de exportações, a poupança doméstica aumentou pouco e os recursos naturais foram mais rapidamente delapidados.
No período de maior expansão, de 2002 a 2007, "o rápido crescimento económico traduziu-se somente numa fraca redução da pobreza", diz o relatório, que estima que 53% da população total dos PMAs vivia na pobreza extrema em 2007.
"Muito poucos estão a caminho de atingir o objectivo de reduzir para metade a pobreza extrema em 2015", diz o relatório, que caracteriza o crescimento dos 49 países, na última década, como "não sustentável" e "não inclusivo".
Na última década, os PMAs também aumentaram a importação de alimentos, que subiu de 9 mil milhões de dólares em 2002 para 24 mil milhões em 2008.
De 2008 até agora, a crise financeira levou a um "significativo" abrandamento do crescimento na grande maioria dos PMAs, particularmente em Angola, Chade, Guiné Equatorial, Serra Leoa, Maldivas, Samoa e Ilhas Salomão.
Em 2009, as entradas de investimento directo estrangeiro nos PMAs diminuíram 13% em relação a 2008. Se no global os países mais pobres tiveram um crescimento no ano passado de 4,3%, o PIB per capita declinou em 19 dos 49 países e aumentou o desemprego. Na RDCongo, exemplifica o documento, perderam-se 100 mil empregos pelo declínio do sector mineiro.
Diz o relatório que os PMAs enfrentam um quadro de médio prazo difícil, com baixos níveis de investimento e fraco desenvolvimento financeiro, dependendo grandemente dos níveis de recuperação do resto do Mundo e do aumento de apoios de doadores.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1720290

domingo, 21 de novembro de 2010

Avaliação da Cimeira da ONU sobre os ODM


(Reflexão apresentada por J. Augusto Leitão na Assembleia do Sol Sem Fronteiras, Lisboa, 14/11/2010)

A ONU no ano 2000 propôs-se alcançar 8 metas até ao ano 2015. Após 10 anos será que valeu a pena? Será que vamos conseguir mesmo alcançar os objectivos de desenvolvimento do Milénio? Para dizer a verdade, para mim não é seguro que todas as metas se alcancem.

I. Avaliação dos 10 anos de ODM
O Secretário Geral Ban Ki-Moon apresentou um relatório sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio 2010. Um grupo de trabalho criado pela ONU publicou um outro documento intitulado: Objectivo de desenvolvimento 8, a aliança para o desenvolvimento numa conjuntura crítica.
Da leitura destes documentos retirei as seguintes conclusões:

1. Os avanços nos ODM são uma realidade complexa e diversificada.
A realidade sócio-cultural do mundo é muito complexa e diversificada. A história avança a velocidades e orientações diferentes. Embora se acentue a dimensão global dos fenómenos, vão-se criando ilhas locais e regionais de subdesenvolvimento que vivem à margem. Há países considerados desenvolvidos e outros em desenvolvimento, no entanto a realidade da pobreza e da fome está presente, de alguma forma, em todos os países. Ex. No mundo inteiro o número de pessoas com fome aumentou de 842 milhões em 1990-92 para 1,02 mil milhões em 2009. No entanto, entre 1991 e 204, o número de pessoas desnutridas no Gana diminui de 74% para 9% da população.
O próprio conceito de pobreza (1,25 USA /dia) é relativo, pois o que se pode comprar com um dólar em Portugal ou no Congo é diferente.

2. Fragilidade das conquistas.
As conquistas têm um cariz de fragilidade muito grande. Basta uma crise política, financeira, económica, alimentar ou o efeito das alterações climáticas (uma seca, cheias ou tufões) para muitas destas conquistas se esfumarem e voltarmos de novo aos valores anteriores. Ex. entre 1998 e 2008 o número de trabalhadores pobres diminuiu de 944 para 632 milhões, ou seja de 38% para 21%. No entanto, calcula-se que em 2009 este número tenha aumentado 215 milhões e no final de 2010 mais 64 milhões entrarão no grupo dos pobres e 41 milhões no de desnutridos.

3. Importância de definir metas e avaliar estratégias
A ONU não é o G3 ou G8 ou G20, mas o G192, Grupo de 192 Nações Unidas pela vontade de construírem um mundo melhor. Para que as situações de pobreza e da fome não sejam um fatalismo, é importante não proferir apenas discursos bonitos de solidariedade e de ajuda assistencial, mas é fundamental definir objectivos e colocar metas a alcançar a médio prazo. Só assim se podem estudar as causas, definir estratégias e propor planos de acção. Deixar as boas intenções no ar é aceitar não fazer nada e deixar tudo como está. Os objectivos comprometem-nos e criam dinâmicas de mudança. Há muito teatro político nestas cimeiras, mas sem a definição de objectivos seria muito pior.

4. Aprofundamento do conceito de desenvolvimento.
Quando pensamos na pobreza e na fome, pensamos logo em projectos de ajuda e em parcerias para o desenvolvimento. Indo ao site do SolSEf, quando se responde à pergunta como ajudar a resposta: é donativos, fazer-se sócio e doar material escolar. O subdesenvolvimento é visto como uma situação humana de carência de comida, roupa, material escolar e sanitário. Como resposta a esta visão de subdesenvolvimento procuram-se ajudas monetárias e em géneros. É o primeiro objectivo e o oitavo: diminuir a pobreza para metade e promover uma parceria global para o desenvolvimento. Mas a análise da situação de pobreza deu-se conta que só com estes dois objectivos nunca iríamos vencer a pobreza, apenas conseguimos minorar artificialmente o sofrimento dos pobres, mas nunca lhe daríamos possibilidade de criar condições para diminuir as situações de pobreza. Por isso, começou-se a analisar quais as condições de sustentabilidade do processo de desenvolvimento. Primeiro identificaram-se as causas da pobreza: o desemprego, a descriminação da mulher, a falta de educação e das condições de saúde materna e infantil, as doenças endémicas e os efeitos das alterações climáticas. Isto significa que o conceito de desenvolvimento não é apenas económico, mas inclui direitos humanos, justiça, paz, ética, valores, a ecologia. Há uma interdependência entre os vários factores e objectivos e um alargamento do conceito de desenvolvimento e bem-estar.
Isto implica uma mudança de mentalidade e visões culturais em relação à mulher, à criança, à escola, à saúde e à ecologia. A pessoa humana e a sua dignidade, independentemente do género, idade ou condição social é que ficam no centro do desenvolvimento.
Este novo conceito de desenvolvimento irá trazer algumas resistências culturais e religiosas pois põem em causa alguns visões sobre a mulher, a criança, a escola, a saúde e o cuidado da terra. Mas torna-se também objecto de lobbies hospedeiros que se aproveitam dos ODM para implementarem campanhas que afectam o valor da vida (aborto), da sexualidade (métodos contraceptivos) e a família (casamentos homossexuais).

5. Criar uma cultura de solidariedade global
A marcação destes oito objectivos vai criando pouco a pouco uma nova cultura que promove a saúde materna e infantil, combate as causas das alterações climáticas, valoriza e universaliza o ensino escolar primário, promove a igualdade de género. É uma cultura que possibilita a sociedade civil exigir dos seus governos o apoio ao desenvolvimento até chegar à meta dos 0,7% do PIB. Mas é também uma cultura que afirma que mesmo em tempo de crise, é necessário promover a solidariedade para com os mais vulneráveis: “No obstante, as incertezas económicas, estas não podem ser una desculpa para abandonarmos as nossas acções em favor do desenvolvimento ou não cumprirmos os compromissos internacionais de proporcionar apoio. Muito pelo contrário, a incerteza é uma razão para acelerar a adopção de medidas e o cumprimento dos compromissos. Ao investir nos objectivos de desenvolvimento do Milénio investimos no crescimento económico mundial; ao centrar-nos nas necessidades dos mais vulneráveis, lançamos as bases de um futuro mais sustentável e próspero.” (Ban ki-Moon)

6. É uma tarefa de todos: ONU, Estados, Privados, ONGDs e sociedade civil
Embora os ODM tenham sido assinados pelos Estados, esta cimeira mostrou a importância do contributo da Igreja e das religiões em geral, das ONGDs e das empresas privadas nesta pareceria global para o desenvolvimento. Todos aparecem como promotores na identificação dos problemas locais, na preparação de projectos para o desenvolvimento, na formação e educação, na criação de estruturas que dêem sustentabilidade à soberania alimentar e à saúde...
A análise da realidade que está subjacente aos ODM deveria também ter consequências na forma como trabalha e organizam campanhas para o desenvolvimento numa OGN como o Sol Sem Fronteiras. Felizmente pude constatar que os projectos no terreno foram elaborados na base dos ODM. Parabéns.

II. Assembleia Geral da ONU 20 a 22 de Setembro em Nova Iorque
Houve espírito positivo em relação aos objectivos e metas a alcançar até 2015. O tema da Cimeira foi: Unidos para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Sinalizaram-se os avanços que foram feitos até agora nas várias áreas, assim como se identificaram os pontos fracos a reforçar nestes cinco anos que faltam até 2015. Para a primeira vez, foi introduzido o tema da deficiência na estrutura de ODM; O papel do sector privado nos ODM é reconhecido explicitamente; Procurou-se que houvesse um seguimento da concretização dos ODM: uma avaliação anual feita pela ONU e uma cimeira de avaliação em 2013.
O Plano Global para os ODM aprovado no final da Cimeira revela o compromisso de Estados, Banco Mundial e empresas privadas no reforço de cada um dos objectivos. Baseado em exemplos de sucesso e lições aprendidas ao longo dos últimos dez anos, o documento enuncia medidas concretas a serem tomadas por todos os parceiros para acelerar o progresso em cada um dos oito Objectivos. Ele também afirma que, apesar dos contratempos devido à crise económica e financeira, progressos têm sido feitos no combate à pobreza, aumento das matrículas escolares e a melhoria da saúde em muitos países, mantendo os Objectivos viáveis.

Apresento aqui um resumo:
Objetivo 1: Erradicar a Pobreza Extrema e a Fome
o O Banco Mundial vai reforçar o seu apoio à agricultura entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões por ano durante os próximos três anos, acima dos US$ 4,1 bilhões anuais anteriores a 2008, no contexto do Plano de Ação Agrícola para ajudar a aumentar a renda, a segurança do emprego e a segurança alimentar nos países menos desenvolvidos.
o A Coreia do Sul prometeu US$ 100 milhões em apoio à segurança alimentar e à agricultura nos países em desenvolvimento.
o O Chile anunciou uma “Iniciativa de Renda Ética da Família”, a ser lançada em 2011, para complementar a renda das famílias mais pobres e aquelas mais vulneráveis da classe média.
o A iniciativa “Monster.com” está empenhada em expandir o acesso a oportunidades de emprego para a juventude rural na Índia, promovendo o acesso à Rozgarduniya.com, um portal de empregos na Internet, presente em 40 mil aldeias em nove estados da Índia.


Objetivo 2: Atingir o Ensino Primário Universal
o O Banco Mundial vai aumentar a concessão de investimentos na educação básica em US$ 750 milhões, focando-se em países que não estão no bom caminho para alcançar os ODMs até 2015, especialmente na África Subsaariana.
o A “Dell” comprometeu-se a conceder US$ 10 milhões para iniciativas de tecnologia da educação este ano.


Objetivo 3: Promover a Igualdade de Género e o Fortalecimento da Mulher
o O “Earth Institue” [Instituto Terra], a Ericsson e o “Millennium Promise” lançaram o “Conectado para Aprender”, uma iniciativa sem fins lucrativos de educação global para melhorar o acesso e a qualidade do ensino secundário para as crianças em todo o mundo – especialmente para as meninas. A iniciativa oferecerá bolsas de estudo de três anos em escolas secundárias, abrangendo despesas escolares, livros, uniformes, bem como acesso à tecnologia de banda larga. As primeiras 100 bolsas serão disponibilizadas nas Aldeias do Milénio em Gana e na Tanzânia, nos próximos 100 dias.
o A “UPS International: prometeu US$ 2 milhões para a Associação Mundial das Guias e Escoteiras, para o fortalecimento das mulheres através de liderança e programas de sustentabilidade ambiental em 145 países.
o A”ExxonMobil” comprometeu-se com US$ 1 milhão em uma parceria com a associação de empreendedores sociais “Ashoka: [Ashoka Changemakers], o Conselho Internacional do Laboratório de Pesquisa sobre Mulheres e Mercados Emergentes para apoiar tecnologias que ajudam as mulheres a aumentar sua produtividade e participar mais eficazmente na economia. O programa deverá beneficiar diretamente mais de 13.500 pessoas, com benefícios indiretos, atingindo mais de 475 mil nos próximos dois anos.


Objetivo 4: Reduzir a Mortalidade Infantil e Objetivo 5: Melhorar a Saúde Materna
o O Secretário Geral lançou uma Estratégia Global para a Saúde das Mulheres e das Crianças, disponível com US$ 40 mil milhões em recursos prometidos. www.un.org/sg/globalstrategy
o O Canadá reafirmou seu compromisso de mobilizar mais de US$ 10 bilhões do G8 e dos líderes fora do G8, principais doadores e fundações privadas, ao longo dos próximos cinco anos, através da Iniciativa “Muskoka” para a saúde materna, neonatal e infantil, adotada na Cúpula do G8.
o Trinidad e Tobago anunciou o lançamento do Fundo para a Vida das Crianças, para a prestação de cuidados de emergência médica e cirúrgica de crianças para procedimentos médicos que não podem ser ter acesso em Trinidad e Tobago.
o Os hospitais “LifeSpring” estão comprometidos em fornecer a cerca de 82 mil mulheres indianas e suas famílias acesso aos cuidados de saúde de qualidade. Nos próximos cinco anos, a “LifeSpring” irá aumentar o número de hospitais que servem às mães e crianças em toda a Índia de 9 para 200, o que vai melhorar os padrões globais de cuidados e reduzir as taxas de mortalidade materna e infantil.


Objetivo 6: Combater o HIV/AIDS, Malária e Outras Doenças
o A França anunciou um financiamento de US$ 1,4 bilhão para o Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária para 2011-2013, o que representa um aumento de 20%. É a primeira de uma série de promessas esperadas antes da reunião do Fundo Global prevista para os dias 4 e 5 de Outubro. [Nota: 46% deste compromisso – a parcela diretamente atribuível à saúde das mulheres e crianças – está incluído nos US$ 40 bilhões para a Estratégia Global para a Saúde das Mulheres e das Crianças.]
o O Reino Unido anunciou que triplicará sua contribuição financeira para combater a malária, aumentando os seus fundos para o combate à doença de £150 milhões por ano para £500 milhões até 2014.
o O Banco Mundial anunciou um aumento no escopo de seus programas de saúde baseados em resultados em mais de US$ 600 milhões até 2015, como forma de ampliar serviços essenciais de saúde e nutrição, bem como reforçar os sistemas de saúde subjacentes em 35 países, especialmente no leste da Ásia, Sul da Ásia e África Subsaariana.
o A “Sumitomo Chemical” se comprometeu a doar 400 mil redes antimalária para cada uma das Aldeias do Milénio entre 2010 e 2011. Isto dá continuidade à doação anterior, em 2006, de 330mil redes.


Objetivo 7: Garantir a Sustentabilidade Ambiental
o Os Estados Unidos anunciaram um compromisso de pouco mais de US$ 50 milhões nos próximos cinco anos para uma Aliança Global para Fogões de Cozinha Limpos, uma parceria público-privada liderada pela Fundação das Nações Unidas que pretende instalar 100 milhões de fogões de queima limpa nas cozinhas de todo o mundo.
o Camarões anunciou um Programa de Desenvolvimento do Setor de Energia para dobrar a produção de energia até 2015 e triplicar até 2020.
o A “WaterHealth International” comprometeu-se com a construção de 75 fábricas de purificação de água no Bangladesh e com a expansão de sua atual rede de estações de tratamento de água para outros 100 aldeias na Índia, oferecendo acesso à água potável para 175 mil pessoas em comunidades com pouco acesso a este recurso natural em Bangladesh e na Índia.
o A “PepsiCo” comprometeu-se a garantir o acesso à água potável para três milhões de pessoas em todo o mundo até 2015.


Objetivo 8: Parceria Global para o Desenvolvimento
o A União Europeia ofereceu um financiamento no montante de €1 mil milhões para os países mais comprometidos e necessitados em fazer avançar os Objectivos que estão mais afastados de sua realização.
o A Bélgica prometeu €400 mil para a Quarta Conferência das Nações Unidas sobre os Países Menos Desenvolvidos, que será realizada em Istambul, na Turquia, em 2011.
http://pressroom.ipc-undp.org/2010/onu-aprova-plano-de-acao-global-para-odm/


Concluindo: Embora o Plano Global não passe de compromissos e a ONU não tenha a capacidade exigir a sua implementação, é positivo que em tempo de crise haja este sentir global solidário e a vontade de continuar a lutar para que os objectivos sejam uma realidade até ao ano 2015. Mesmo que não se consigam todos os ODM, o facto de se ter colocado a humanidade a sonhar com um mundo melhor para todos, já foi uma grande conquista.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

G20 Seul 11 e 12 de Novembro: Mensagem do Papa


Vaticano: Papa avisa líderes do G-20 que "o mundo está a observá-los"

Cidade do Vaticano, 10 nov (Lusa) -- O papa Bento XVI avisou hoje os participantes na cimeira do grupo das 20 principais economias mundiais (G-20) que "o mundo está a observá-los".

O papa pediu aos líderes mundiais - que se reúnem a partir de quinta feira em Seul, na Coreia do Sul -- que trabalhem em soluções "duráveis, renováveis e justas" e respeitadoras da "dignidade humana".

Os chefes de Estado e de Governo são "encorajados" por Bento XVI a "enfrentar os múltiplos e graves problemas" que os esperam sem perderem de vista que "as medidas adotadas só funcionarão se forem destinadas a assegurar o progresso autêntico e integral do Homem".

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sudão: cristãos dispostos a assumir sua nova situação no norte e no sul


Perante o próximo referendo de Janeiro
JUBA, segunda-feira, 26 de Outubro de 2010 (ZENIT.org) – Abriu-se no Sudão o processo cívico educativo que culminará em uma consulta decisiva para o povo sudanês. Os prognósticos dizem que, em 9 de Janeiro de 2011, surgirá um novo país na África: o Sudão do Sul. A Igreja trabalha com outros grupos confessionais cristãos e com autoridades internacionais para chegar a um processo de transição limpo e pacífico.
Com sentido de responsabilidade pelo futuro, grupos de missionários e líderes católicos colaboram no plano eclesial para preparar o processo de tomada de decisões. Líderes cristãos de diferentes confissões pediram a mediação da ONU para que o referendo de 9 de Janeiro seja limpo.
Em Juba, capital da região semi-autónoma do Sudão do Sul, uma iniciativa intercongregacional, algo muito comum na África, integrada por 24 religiosas e religiosos de quinze nacionalidades, trabalha em quatro dioceses do Sudão meridional: Yambio, Malakal, Wau e Juba, capital.
Este trabalho silencioso e constante da Igreja Católica orienta-se para preparar uma transição pacífica para a independência da região meridional, predominantemente cristã.
Foi um longo processo de décadas de guerra e conflitos, que culminou no acordo de 9 de Janeiro de 2005, pelo que o Norte predominantemente muçulmano e as autoridades de Cartum, em sua maioria árabes, em um país habitado maioritariamente pela população negra, cederam e firmaram um pacto.
Funcionários da ONU garantem que haverá representantes em cada condado do Sudão do Sul com a finalidade dar continuidade ao referendo eleitoral sobre a independência.
Tentativa de assassinato
Enquanto isso, todos se perguntam quem tentou matar no dia 10 de Outubro o cardeal Gabriel Zubeir Wako, arcebispo de Cartum.
Durante a celebração da eucaristia, e diante de cerca de 10 mil fiéis, um homem tentou apunhalar o cardeal, mas foi detido pelas pessoas.
Segundo informa Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o atentado ao purpurado estaria ligado a uma campanha de intimidação de grupos extremistas islâmicos contrários à separação da região do Sul.
Há 30 anos, havia apenas um sacerdote em Cartum. Agora passam de cem, com cerca de trinta paróquias e cem centros, onde é celebrada a Eucaristia. Dos 18 milhões de habitantes da arquidiocese, mais de 900 mil são católicos.
A Igreja local dirige o projeto “Salvar os que podem ser salvos”, com 65 escolas, mais de 33 mil alunos e em torno de mil professores. Sua finalidade é oferecer uma educação adequada para crianças refugiadas em Cartum e procedentes do sul do país.
A Igreja Católica se fortalece também no norte, num contexto difícil, predominantemente muçulmano e governado por autoridades desta religião. Tanto no norte como no sul, os missionários católicos trabalham por um processo limpo, transparente e de tomada de responsabilidades por parte da cidadania.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Santa Sé: desenvolvimento sustentável, sem malária, no futuro da África


Intervenção do observador permanente do Vaticano na ONU
NOVA YORK, terça-feira, 19 de Outubro de 2010 (ZENIT.org) - Erradicação da pobreza, situar os países no caminho do crescimento e desenvolvimento sustentável, acabar com a marginalização do continente no processo de globalização e lutar contra a malária: estes são objetivos indicados para a África pelo observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, Dom Francis Chullikatt.
O prelado interveio na sexta-feira passada em Nova York e destacou que "enfrentar as necessidades especiais da África requer a associação de todos os segmentos da sociedade", uma associação que "ajude a promover uma maior solidariedade e ao mesmo tempo um desenvolvimento mais sustentável no continente".
Neste sentido, destacou que o recente declínio na economia global lançou novos desafios para a África, já que "os investimentos diretos estrangeiros na região diminuíram 36% desde 2008".
O prelado também referiu-se à Nova Associação Económica para o Desenvolvimento da África (NEPAD), um programa da União Africana instituído em 2001, que conta com o apoio coordenado das Nações Unidas.
O arcebispo concordou com a posição de NEPAD, para quem "a saúde e o bem-estar do povo africano ajudarão a conseguir a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável na África".
Luta contra a malária
A delegação da Santa Sé expressou uma particular gratidão pelo relatório sobre a malária, que descreveu os notáveis progressos alcançados na luta contra esta enfermidade na última década.
O arcebispo recordou a "recente iniciativa da African Leaders Malaria Alliance (ALMA), por meio da qual os chefes de Estado e de Governo africanos se reuniram para promover a garantia universal das intervenções para o controle da malária.
Concretamente, o prelado pediu assistência para mulheres grávidas, recém-nascidos e crianças pequenas.
Os efeitos mais devastadores da enfermidade são, de fato, os que afetam as crianças mais novas, de cinco anos: muitos dos que sobrevivem a casos graves da malária podem sofrer danos cerebrais ou ter dificuldades de aprendizagem.
"Os doentes devem ter acesso a um tratamento adequado e os indivíduos devem poder fazer exames e receber remédios acessíveis, seguros e, quando for necessário, gratuitos", afirmou Dom Chullikatt.
O observador permanente recordou que 90% das milhares de pessoas que morrem anualmente pela malária estão na África. Os países mais afetados são a República Democrática do Congo, Etiópia, Quénia, Nigéria e Tanzânia.
O prelado concluiu sua intervenção expressando o apreço da Santa Sé por muitos agentes do sistema de saúde, católicos e não católicos, que trabalham incansavelmente para assistir os que sofrem na África.
Na luta contra a malária, de fato, "não apenas proporcionam os recursos e capacidade técnica para assistir os doentes, mas que também trabalham para promover um maior desenvolvimento na África", destacou.
Ele constatou que "com instrução, infra-estrutura e programas de assistência sanitária, frequentemente nas comunidades mais pobres e vulneráveis, estas organizações são fundamentais para o desenvolvimento da África a longo prazo".

sábado, 16 de outubro de 2010

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


(Sugestão para a celebração da Eucaristia ou momento de oração comunitário)

Admonição no inicio da Eucaristia ou durante a homilia
A Eucaristia é a Mesa da comunhão e da inclusão. Todos são chamados a participar no banquete da Vida que nos é oferecido por Cristo Jesus. No Pai-nosso pedimos que o Senhor nos dê a todos “o pão nosso de cada dia”.
Hoje queremos unir-nos à campanha mundial do “Levanta-te e actua” contra a pobreza e a favor dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Queremos fazer parte dos que não querem ficar indiferentes aos cerca dos 1,2 mil milhões de pessoas (20% da população mundial) que vive muito abaixo do limiar mínimo da pobreza (com menos de um dólar por dia); dos 850 milhões de seres humanos que sofrem de fome e dos 30 mil que morrem de causas directamente relacionadas com a pobreza. São nossos irmãos. Se vibrámos quando se salvaram 33 mineiros que ficaram presos na mina do Chile, como podemos ficar indiferentes aos que morrem diariamente soterrados por causa da fome e das condições indignas em que vivem?

Oração Universal (prece especial para este dia)

Para que neste dia internacional para a erradicação da pobreza os cristãos se empenhem na promoção de um mundo mais justo e digno para todos e promovam uma melhor distribuição da riqueza e o combate de todas as causas da pobreza e da fome. Oremos ao Senhor.

Gesto de compromisso antes da bênção e envio
(Posição: sentados)

Porque não pretendemos ficar indiferentes à sorte de 20% dos nossos irmãos que vivem abaixo do limiar da pobreza no mundo, queremos levantar-nos e actuarmos contra a pobreza e fome. (todos se levantam)

Todos cantam:

Cristo quer a tua ajuda para amar (bis)
Não te importes da raça nem da cor da pele
Ama a todos como irmãos e faz a paz. (bis)


Nota: Se realizares alguma acção no contexto desta campanha de sensibilização, informa-nos: local, hora, dinâmica seguida e número de participantes. Caso queiras registar a tua acção directamente, vai http://pobrezazero.heylife.com/?p=382

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

17 Outubro - Campanha Pobreza Zero - Levanta-te Portugal


Mais de um bilião de pessoas estão desnutridas, segundo os mais recentes dados. Os níveis de fome global revelam uma situação considerada extremamente alarmante.
O Índice Global da Fome 2010 demonstra que a desnutrição das crianças representa a maior fatia da população mundial afectada pela fome, com particular incidência nos países da África Sub-Sariana e do Sul da Ásia.

Os responsáveis pela elaboração do relatório, do International Food Policy Research Institute (IFPRI), consideram urgente a tomada de medidas para combater a desnutrição infantil para inverter a tendência crescente para a fome global.

Os níveis de fome calculados revelam uma situação inaceitável e desde 2006 houve um acréscimo galopante nos números de crianças mal nutridas, numa situação onde os muitos dos efeitos negativos serão irreversíveis.

O caso mais extremo é a República Democrática do Congo onde houve uma aumento de mais de 65% no índice.

Este recente incremento do Índice é justificado essencialmente pelo aumento global do preço da alimentação e a recessão económica global.

http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=20&cid=25191&bl=1

17 Outubro - Campanha Pobreza Zero - Levanta-te Portugal

Depois de no Ano passado termos batido mais um recorde mundial e termos dado um exemplo ao mundo de mobilização massiva, com 10 por cento das acções do Levanta-te de todo o Mundo..
Este ano queremos mais...
Mais mobilização, mais acção, mais eventos, mais imaginação..
e Tu és expert nesse campo, porque no ano passado foste uma referência muito importante na liderança deste movimento na tua comunidade.

É com as pequenas grandes vontades que mudamos os paradigmas da sociedade. Somos maiores porque somos mais!
Aparece, Divulga, Faz o teu papel de cúmplice nesta luta que nos junta por um mundo melhor.

Este é o “Mundo que Queremos”?

Apelamos nacionalmente para uma mobilização contra a pobreza e pelos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em todo o território nacional, entre os dias 15 e 17 de Outubro, queremos o máximo de acções e o maior número de gente envolvida para que nos façamos ouvir, celebrando a cidadania activa por um Portugal mais justo e equitativo e exigindo que os governos cumpram com as promessas de acabar com a pobreza extrema e que se alcancem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) até 2015.
http://www.pobrezazero.org/

Seguem então aqui os links.


Explicação

Levanta-te Portugal – “O MUNDO QUE QUEREMOS”

Registo

REGISTA O TEU EVENTO
e
Manifesto Pobreza Zero

continuação do excelente trabalho!

Qualquer dúvida ou questão, não hesites em contactar-nos para este mail, ou para pobrezazero@oikos.pt

Conto Contigo!

PS: Partilhamos o novo Vídeo do Fama Show da Sic de 10/10/2010
(Com Rita Guerra, Angélico, entre muitos outros)

Artistas de topo das mais diversas áreas desfilam pela Pobreza Zero, provando que esta é uma luta comum a toda a gente e é igualmente uma responsabilidade de toda a gente envolver-se e elevar a cidadania activa como resposta para uma sociedade mais Justa.

http://www.youtube.com/watch?v=sg9qjQQ4eV0

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Bruno G. M. Neto
Coordenador de Programa
Pobreza Zero - GCAP Portugal
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2790-447 Queijas
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"A Pobreza não é um Cliché, por isso não a combatemos só com palavras"

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Semana de luta contra a pobreza arranca hoje em toda a Europa


A luta contra a pobreza estará nas ruas dos Estados-membros da UE entre hoje e domingo em diversas iniciativas, como animações, marchas e música, promovidas por organizações não governamentais, no âmbito do Ano Europeu contra a Pobreza e a Exclusão Social.

Com o objetivo de reforçar o empenho na tomada de medidas sociais, e tendo em vista a erradicação da pobreza, um grupo de organizações não governamentais reuniu-se para produzir e desenvolver durante esta semana – designada Focus Week - atividades em vários distritos do país.
Na próxima quarta feira decorre o evento “24 Horas pelo Combate à Pobreza e à Exclusão Social”, com iniciativas promovidas por instituições como a Amnistia Internacional, entre as quais o lançamento do livro “A Verdade Desconhecida – Pobreza e Direitos Humanos”, de Irene Khan, ex-secretária geral daquele organismo.
Ainda no dia 06 de outubro, decorrerá em Belém um “jogo contra a pobreza” que contará com a participação de várias figuras públicas, enquanto no Largo de Camões, também em Lisboa, está prevista uma concentração com animação de rua.
No Porto haverá uma marcha na Avenida dos Aliados e um concerto na praça General Humberto Delgado, com atuações de Som da Rua, Tuna Feminina da Escola Superior de Enfermagem, Black Jackers, Orfeão Académico do Porto, Mind da Gap, Expensive Soul, Dr1ve e Bueno.Air.Es.
No mesmo dia tem início o II Fórum Nacional Pessoas em Situação de Pobreza, que decorrerá na Pousada da Juventude da Expo e na Assembleia da República, onde será apresentada, no dia 07, uma declaração final, subordinada ao tema “Para uma estratégia a 10 anos para erradicação da pobreza”.
Outra iniciativa musical, no âmbito da Focus Week, será um “concerto solidário”, na Igreja de São Roque, em Lisboa, cujo objetivo é a recolha de fundos para a aquisição de instrumentos musicais destinados a crianças carenciadas. O valor angariado com a venda dos bilhetes para o concerto reverte inteiramente para esta finalidade
segunda-feira, 4 de Outubro de 2010 07:45: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=472024&page=0
Diário Digital / Lusa

sábado, 2 de outubro de 2010

Vaticano organiza fórum para o desenvolvimento em África


Organizado na cidade de Abidjan
ABIDJAN, terça-feira, 28 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) - O Conselho Pontifício para a Cultura, em colaboração com a Congregação para a Evangelização dos Povos, organiza um fórum para promover o desenvolvimento em África, "fazendo da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, o coração de toda consideração e iniciativa".
Segundo um comunicado do dicastério, divulgado pela Rádio Vaticano, o fórum acontecerá em Março de 2011, reunirá diversas organizações eclesiásticas internacionais e não-governamentais e terá como tema "Culturas, identidade dos povos e desenvolvimento em África e na diáspora negra".
Este Fórum pretende também ser um lugar de reflexão permanente para mostrar propostas concretas, permitir um compromisso no âmbito da cultura e da educação e ser um "trampolim" para o desenvolvimento de África.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Populações pobres: “grandes demais para que fracassem”


O Porta-voz do Vaticano analisa a Cimeira sobre Objetivos de Desenvolvimento do Milénio


CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 27 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) - Se durante a recente crise, a política se mobilizou para ajudar os bancos, já que eram "grandes demais para que fracassem", com maior empenho terá de fazê-lo a favor dos povos que sofrem fome e pobreza, assegura o porta-voz Vaticano.
O Pe. Federico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, fez uma análise do histórico discurso que Bento XVI pronunciou no Westminster Hall de Londres, no dia 17 de Setembro, ao mundo político, social, académico, cultural e empresarial britânico, à luz da recente cimeira da ONU sobre o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
No Reino Unido, o Pontífice recordou que os governos intervieram de forma massiva e imediata para salvar instituições financeiras muito importantes que estavam à beira do fracasso.
"Considerou-se necessário intervir destinando quantidades enormes - recordava o Papa -, porque estas instituições eram ‘grandes demais para que fracassem' (Too big to fail)."
Sem esta intervenção económica, explicou, "a economia dos países interessados teria sofrido graves danos".
Segundo explica seu porta-voz no último editorial de Octava Dies, semanário do Centro Televisivo Vaticano, o Papa quis dizer que, "se foram capazes de intervir para salvar grandes instituições financeiras, por que não se aplica a mesma coisa quando se trata do desenvolvimento dos povos da terra, da fome e da pobreza?".
"Este, sim, é um verdadeiro objetivo ‘grande demais para que fracasse'!", sublinha o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.
"A partir desta perspectiva - acrescenta -, deve-se enfocar a cimeira de Nova York sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio."
"Certamente, haverá diversas avaliações - reconhece Lombardi. A empresa é ciclópica e é um apelo à colaboração, não só do governo, mas também de todas as forças ativas da sociedade, tanto do mundo desenvolvido como do que está em vias de desenvolvimento."
O sacerdote jesuíta recorda que a Igreja, nos diversos lugares do mundo, está comprometida neste campo "à luz de uma perspectiva espiritual e moral, consciente e atenta aos valores fundamentais, bem delineados na encíclica Caritas in veritate".
Como reiterava em Nova York o representante da Santa Sé, cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, "a pessoa humana deve ser colocada no centro da pesquisa para o desenvolvimento; não deve ser vista como um peso, mas como parte ativa da solução".

terça-feira, 28 de setembro de 2010

ODM: Novo Fôlego até 2015?


No dia 27 de Setembro, num encontro promovido pela Antena AEFJN, em Lisboa, a Dra Mónica Ferro fez a sua avaliação da Cimeira da ONU sobre os ODM. Este texto, é uma síntese escrita que foi publicada na Ecclesia: http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=81685

Em 2000, os chefes de Estado e de Governo da ONU acordaram uma estratégia ambiciosa para até 2015 garantir que todos os povos possam viver em maior liberdade, em dignidade erradicando a pobreza extrema e a fome, melhorando a saúde materna e infantil, combatendo as doenças, empoderando as mulheres, criando um ambiente sustentável e uma parceria mundial para o desenvolvimento. Os 8 Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e a sua consecução estiveram, 10 anos depois, em análise em Nova Iorque na Reunião Plenária de Alto Nível da AGONU que decorreu de 20 a 22 de Setembro deste ano.

Nesta reunião, chefes de estado e de governo, líderes de organizações da sociedade civil, fundações e sector privado fizeram um balanço sobre os sucessos e fracassos em matérias de ODM e gizaram um compromisso que visa por em prática um plano de acção que possibilite a realização dos 8 ODM dentro do prazo limite.

“O mundo possui os conhecimentos e os recursos necessários para realizar os ODMs e não o fazer seria um fracasso inaceitável, no plano moral e prático,” alerta Ban Ki-moon.

Os temas centrais desta reunião foram os défices da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (e transparência e eficácia da mesma), a melhoraria do enquadramento do comércio internacional, a redução do peso da dívida, o acesso a medicamentos e à tecnologia por parte dos países em desenvolvimento.

O balanço que foi feito mostra-nos um cenário heterogéneo: a redução da pobreza em certas zonas do mundo, o avanço na universalização do ensino primário, o alargamento do número de pessoas que teve acesso a medicamentos anti-retrovirais, as crianças que foram salvas com campanhas de vacinação contra o sarampo e a varíola, o abrandamento do ritmo de desflorestação mundial, o aumento da cobertura das novas tecnologias… Mas também os 1,4 mil milhões de pessoas continuam a subsistir com menos de 1,25 dólares dor dia, os 830 milhões de pessoas que sofrem de fome, os 9 milhões de crianças morrem por ano, na sua maioria de doença preveníveis ou tratáveis, antes de completarem os 5 anos de idade e as 350 mil mulheres morrem todos anos por complicações ligadas com a gravidez e o parto.

O panorama é pior nos países menos avançados, nos estados insulares e nos estados sem litoral, já para não falar nos países em conflito.

Do lado dos doadores, embora em 2010 os fluxos de APD tenham atingido os 120 mil milhões de dólares, o montante mais elevado de sempre, estes continuam aquém da promessa de dedicar 0,7% do seu RNB para a APD, ficando-se por uma média mundial de 0,31%. Os efeitos da crise económica e financeira mundial são usados como discurso de justificação para a contracção dos orçamentos da ajuda.

Da reunião de Nova Iorque saiu uma declaração que reitera os princípios que sempre têm norteado a cooperação em sede de ONU, tais como o da apropriação nacional, do desenvolvimento inclusivo, das parcerias mundiais, mas que tenta ir mais longo prescrevendo uma série de medidas de aceleração e efectiva consecução para cada ODM. Um documento notável pela síntese que é feita e que vale a pena ler.

Ao lado deste documento é de assinalar o lançamento pelo SG da Estratégia Mundial para a Saúde Materna e Infantil: com um investimento de 40 mil milhões de dólares poderemos salvar 16 milhões de vidas até 2015. A estratégia mundial pretende-se um roteiro que identifique as mudanças de políticas necessárias e o seu financiamento e ainda as intervenções susceptíveis de ajudar a melhorar a vida das mulheres e das crianças.

Programas como o Quadro para a Aceleração dos ODM, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento que pretende criar um meio sistemático de identificar os estrangulamentos e as soluções que permitem responder aos mesmos e ajudar os países a desenvolver os seus próprios planos de acção e que está me fase piloto em 10 países parecem-nos promissores e o tipo de estratégia inteligente e de forte impacto de que nos fala o Documento Final da Cimeira.

Um documento que deve ser lido e complementado com uma perspectiva de direitos humanos inspirada pelos inúmeros tratados assinados – como o defendeu a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos. Esta perspectiva permitirá colmatar algumas lacunas já identificadas.

O espírito de Nova Iorque traduziu-se, assim, num esforço de se mostrar o quanto foi feito, quantas vidas foram resgatadas a um destino miserável, quanto do planeta foi salvo. Mostrar que as crises fizeram retroceder anos de bons desempenhos e perigar conquistas que eram tidas como seguras. Mostrar que há uma consciência mundial de que o desenvolvimento e a segurança de todos estão tão interligados que não se percebe onde começa um e acaba o outro e, por consequência, onde começa a responsabilidade de um estado e termina a de outro. Mostrar que os números são pessoas, são os povos das Nações Unidas que apenas querem viver em dignidade.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os ODM, um sinal de esperança - Uma visão a partir da fé cristã


No dia 27 de Setembro, reuniram-se no Seminário do Verbo Divino em Lisboa, cerca de 50 pessoas para participarem num encontro de avaliação da Cimeira da ONU sobre os ODM. O responsável da Antena Fé e Justiça Europa-África em Portugal, fez a seguinte reflexão.

Reunimo-nos para avaliar a Cimeira da ONU sobre o andamento dos ODM, em Nova Iorque, de 20-22 Setembro de 2010. A primeira reacção poderia ser o que temos nós, sociedade civil e Igreja, a ver com isto? É um assunto político, eles que se entendam; ou o mundo sempre foi assim, uns mais pobres e outros mais ricos, uns mais desenvolvidos, outros menos. Nós também estamos em crise e em Portugal também há muitos pobres e desempregados, cada um que cuide de si. Os países pobres estão na situação em que estão porque não trabalham e têm governos corruptos, por isso, não adianta ajuda-los.
Temos mil e um argumentos para nos abstrairmos dos problemas dos outros e dos assuntos políticos, no entanto, a Fé no Deus em quem acreditamos não nos deixa ficar indiferentes. Exige que nos interessemos pela sorte de toda a humanidade e de toda a criação. Nada do que acontece no mundo nos deve ser alheio e indiferente. Estamos todos agrafados na mesma história, na mesma sorte e no mesmo destino.
O facto das Nações Unidas se terem comprometido com oito metas concretas de desenvolvimento global até 2015 é um sinal de esperança. Há pelo menos a preocupação pela sorte do outro. A indiferença e o egocentrismo foram vencidos pela solidariedade e entreajuda.
Como cristão, destaco, entre muitos, três textos bíblicos que me motivam a apoiar iniciativas deste tipo: Gn 4,9; 1Cor 11,33; Jo 15,12.

1. “O Senhor disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4,9)
O Papa Bento XVI recordou que a actualidade profética da mensagem de Fátima está na dimensão solidária e reparadora da Mensagem de Maria: preocupar-se com os pecadores e sacrificar-se por eles. Fazer da nossa vida a urgência da caridade e a salvação de todos.
Vivemos num mundo globalizado, onde tudo parece uma aldeia na hora da curiosidade informativa: gostamos de saber todas as novidades e desgraças que vão acontecendo no mundo. Seguimos a guerra em directo, o drama dos mineiros chilenos hora a hora, as tensões no Médio Oriente, os discursos de Obama, as visitas do papa... mas somos capazes de não conhecer o vizinho do apartamento ao lado e desconhecer o drama da pobreza escondida dos vizinhos com que nos cruzamos todos os dias.
A comunicação e a globalização aproxima-nos na curiosidade mas nem sempre nos faz “guardas do nosso irmão”, nem sabemos como ele está, se sente ou vive. Onde está o teu irmão idoso e solitário? Onde está o teu irmão/ã que sofre violência doméstica ou é abusado por aqueles que o deviam proteger? Onde está o teu irmão migrante ou refugiado que procura acolhimento digno? Onde está o teu irmão que morre de forme ou por falta de cuidados mínimos de saúde? Onde está o teu irmão que nem sequer teve direito a nascer? Onde está o teu irmão neste mundo globalizado na curiosidade mas nem sempre na solidariedade e fraternidade?
É Deus que pergunta a Caim e pergunta a cada um de nós: Onde está o teu irmão? O desinteresse e a omissão pela sorte do outro podem ser assassinas. Somos de facto guardas dos nossos irmãos e da integridade da criação.

2. “Por isso, meus irmãos, quando vos reunirdes para comer, esperai uns pelos outros.” (1Cor 11,33)
“Esperai uns pelos outros”. Esta frase de S. Paulo sempre me tem interpelado, pois vivemos num mundo a ritmos diferentes. Há uns que estão mais desenvolvidos tecnologicamente, outros menos; há os que têm tempo para tudo, outros que não têm tempo para nada; Há uns que vivem em conflito, outros que vivem em paz; uns que têm recursos naturais, outros que têm recursos humanos e intelectuais; uns que valorizam mais a comunidade, outros o individuo; uns mais pobres e outros mais ricos... Mas todos somos cidadãos do mesmo Planeta terra, todos navegamos no mesmo barco. Não adianta celebrarmos a Eucaristia, pão partido por todos e para todos, se não formos capazes de esperar uns pelos outros e apoiarmos os que vão na cauda do grupo. O egoísmo míope não tem lugar à volta da Mesa do Senhor. A “fracção do Pão” só é abençoada pelo Espírito quando se faz sacramentalmente dentro e fraternamente fora.
O livre mercado, entregue a si mesmo é idolátrico. Só quando colocamos no centro o bem da pessoa toda e de todos é que podemos sentar-nos todos à mesma mesa sagrada da fraternidade eucarística. Por isso, a ajuda ao desenvolvimento é fundamental, mesmo quando, como agora, estamos de corda ao pescoço devido à subida do deficit. As pessoas e os países mais ricos devem esperar pelas pessoas, grupos e países mais pobres. A Eucaristia deve ser a expressão e o alimento de fraternidade solidária e não a sacralização das desigualdades instaladas e procuradas.

3. “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.” (Jo 15,12).
Por fim, o mandamento novo do amor. Saber onde está e como está o meu irmão, esperar por ele, deve brotar dum amor sincero e gratuito e não dum sentimento de quem dá esmola a um coitadinho. Amar não é criar dependências nem humilhar o nosso irmão. Amar é elevar, restabelecer a dignidade, ajudar a levantar, procurar as causas e impedir a perpetuação dos atrasos no desenvolvimento. Amar a terra é promover a ecologia e denunciar as práticas destruidoras do ambiente e da biodiversidade. Amar os mais desfavorecidos é criar condições de sustentabilidade no desenvolvimento e igualdade de oportunidades.
É importante exigir os 07% de apoio ao desenvolvimento aos países menos desenvolvidos, ajudar em catástrofes e emergências, mas é também fundamental promover relações comerciais e políticas mais justas e transparentes.
É desta forma que a AEFN procura trabalhar. Influenciando as políticas nas relações comerciais entre a Europa e África, para que a dependência e o subdesenvolvimento não se perpetuem, e o desenvolvimento e a dignidade dos povos africanos se possa afirmar como um hino ao Criador que a todos ama como filhos.

Lisboa, 27/09/2010

José Augusto Duarte Leitão, svd
Responsável pela Antena AEFJN Portugal

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cardeal Turkson denuncia obstáculos ao desenvolvimento


Na cimeira de Nova York sobre os objetivos do Milénio

NOVA YORK, terça-feira, 21 de Setembro de 2010 (ZENIT.org) - O cardeal Turkson, em nome da Santa Sé, denunciou diante da cimeira da ONU, que é realizada em Nova York de 20 a 22 de Setembro sobre os Objetivos do Milénio, os obstáculos que se opõem ao desenvolvimento.

O cardeal Peter K.A. Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, representa a delegação da Santa Sé nesta cimeira na qual participam cerca de 140 chefes de Estado e de Governo reunidos para impulsionar a luta contra a pobreza, fome e doenças.
O purpurado africano, originário de Gana, enumerou, entre os "obstáculos ao desenvolvimento", a "conduta incorreta e irresponsabilidade da maior parte dos agentes financeiros", o "nacionalismo excessivo e os interesses corporativos", as "velhas e novas ideologias", a instigação "a guerras e conflitos", "o tráfico ilegal de pessoas, drogas e matérias-primas relacionadas a situações de guerra e pobreza extrema, e a falta de escrúpulos de alguns agentes económicos e sociais das regiões mais desenvolvidas".
Ao mesmo tempo em que destacou os progressos no alcance de alguns objetivos do Milénio, indicou também o caminho que falta por percorrer, sobretudo nos países da África Subsaariana.
O representante da Santa Sé exortou a "continuar reforçando a mobilização política, mediante uma constante solidariedade económica e financeira, para garantir a disponibilidade dos recursos".
Destacou que os países desenvolvidos e as economias emergentes "deveriam manter abertos seus mercados" para "ajudar os países pobres a crescerem até a independência económica, necessária para o desenvolvimento socioeconómico".
Segundo ele, todos os governos, tanto desenvolvidos como em vias de desenvolvimento, devem aceitar sua responsabilidade na luta contra a corrupção.
Citando a encíclica de Bento XVI Caritas in Veritate, o cardeal Turkson destacou que a abertura à vida é um rico recurso social e económico e o controle dos "impulsos hedonistas" é o ponto de partida para construir uma sociedade harmónica. E também a condição essencial para um desenvolvimento económico sustentável.
Neste sentido, sobre o tão debatido assunto da saúde materna, o representante da Santa Sé convidou os países participantes a "proporcionarem recursos de qualidade para atender as necessidades de saúde de mães e filhos, inclusive dos não-nascidos".
Fez referência a pontos de controvérsia do Documento Final, como a "saúde sexual e reprodutiva" e a "planificação familiar", que geram em sua delegação "profunda preocupação" sobretudo se incluírem o acesso ao aborto e métodos de planificação familiar que não estão de acordo com a lei natural.
Recordou que, em sua última encíclica, o Papa explicou que o verdadeiro desenvolvimento põe o ponto central na caridade, porque "as causas do subdesenvolvimento não são em primeiro lugar de ordem material" e só a busca de um novo humanismo capacitará o homem contemporâneo para encontrar novamente a si próprio.
Também que, na luta contra a pobreza, a pessoa humana deve ser situada no centro da preocupação pelo desenvolvimento.
"Se os direitos e liberdades políticas, religiosas e económicas de cada um forem respeitados, mudaremos o paradigma: de simplesmente procurar administrar a pobreza a criar riqueza; de ver a pessoa como um peso a vê-la como parte da solução", concluiu o cardeal Turkson.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Convite


Encontro de avaliação da Cimeira da ONU
sobre o futuro de ODM 2015
27 de Setembro de 2010, 15 h
Seminário do Verbo Divino




AVALIAÇÃO
Prof. Mónica Ferro, Inst. Superior de Ciências Sociais e Políticas

PAINEL E DEBATE
D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social
Dr. Eugénio Fonseca, Caritas Portuguesa



Rua S. Tomás de Aquino, 15 1600-203 Lisboa
(Carris: nº 701 e 738 e Metro Laranjeiras ou Cidade Universitária (10 minutos a pé)


Inscrição gratuita para aefjnportugal@gmail.com





Antena AEFJN Portugal; Comissão Episcopal da Pastoral Social; Comissão Nacional de Justiça e Paz, CIRP-JPIC, Caritas Portuguesa, Desafio Miqueias

Cimeira da ONU sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio


Dirigentes mundiais reunem-se em Nova Iorque, de 20 a 22 de Setembro,
para promover avanços na luta contra a pobreza


Nao podemos desiludir os milhares de milhões de pessoas que esperam que a comunidade internacional cumpra a promessa da Declaração do Milénio por um mundo melhor”.
- Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas

O QUÊ
Quando faltam apenas cinco anos para 2015, o prazo fixado para a realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), a Cimeira – designada oficialmente Reunião Plenária de Alto Nível da Assembleia Geral – reunirá os dirigentes mundiais para avaliar os avanços, identificar os atrasos e assumir o compromisso de lançar um plano de acção concreto para realizar os ODM e os objectivos de desenvolvimento acordados a nível internacional. Também se espera que os responsáveis da sociedade civil, de fundações e de empresas anunciem novas iniciativas destinadas a acelerar os progressos. Além das declarações dos dirigentes mundiais e de mesas-redondas sobre temas cruciais, deverão ter lugar vários eventos paralelos de alto nível, centrados em iniciativas concretas.

PORQUÊ
Há dez anos, na Cimeira do Milénio de Setembro de 2000, a comunidade internacional uniu-se em torno de um esforço de quinze anos para lutar contra a pobreza, a fome e as doenças. Alguns países alcançaram êxitos importantes em matéria de redução da pobreza, da melhoria da escolarização e da saúde das crianças, do alargamento do acesso à água limpa e da luta contra a malária, a tuberculose e a SIDA, mas os progressos foram desiguais e, sem esforços adicionais, é provável que inúmeros países não alcancem vários ODM.

QUEM
Os Chefes de Estado e de Governo, aos quais se juntarão os líderes de grupos de defensores dos direitos dos cidadãos, fundações e sector privado. Serão proferidos discursos de abertura por Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU, e pelos Presidentes Ali Abdussalam Treki (da Líbia, Presidente da 64ª. Sessão) e Joseph Deiss (da Suíça, Presidente designado da 65ª. Sessão).

QUANDO
De 20 a 22 de Setembro, imediatamente antes do debate anual de alto nível da Assembleia Geral da ONU.

ONDE
Sede das Nações Unidas em Nova Iorque

Calendário – Alguns relatórios e eventos, de interesse para os meios de comunicação social:
4 de Março – O Presidente da Assembleia Geral inicia as consultas junto dos governos para preparar a Cimeira sobre os ODM. Os Representantes Permanentes da Dinamarca e do Senegal actuarão como facilitadores das deliberações, tendo em vista um plano de acção concreto a adoptar na Cimeira.
16 de Março – O Secretário-Geral apresenta aos governos e aos meios de comunicação social o seu relatório exaustivo sobre a Cimeira, intitulado Keeping the Promise*. O relatório analisa os avanços e os atrasos, as lições aprendidas e as recomendações sobre a adopção de medidas concretas (O Statistical Annex ao relatório do Secretário-Geral estará disponível em Abril).
Abril – Publicação, pelo Banco Mundial, dos World Development Indicators e do Global Monitoring Report, que se centram nos progressos e recomendações de políticas sobre os ODM, em conjugação com as reuniões organizadas pelo Banco Mundial em Washington, DC.
Abril-Junho – Serão publicados cerca de 30 relatórios nacionais sobre os ODM, em cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Em Junho, um relatório de síntese analisará as lições aprendidas.
7-9 de Junho – A conferência internacional Women Deliver incidirá sobre a saúde reprodutiva e materna, o objectivo em relação ao qual se registaram menores avanços (Washington, DC). Na mesma altura, Countdown to 2015 – uma iniciativa em participam a OMS, a UNICEF, o UNFPA, o Banco Mundial e outros – lançará um relatório para acompanhar os progressos no domínio da saúde infantil e materna (ODM 4 e 5).
14-15 de Junho - A Assembleia Geral organizará, durante dois dias, audiências interactivas informais com ONG, a sociedade civil e o sector privado, no quadro dos preparativos para a Cimeira sobre os ODM.
Fim de Junho – O Millennum Development Goals Report 2010* divulgará os progressos mais recentes com base em dados estatísticos fornecidos por mais de 20 organismos da ONU e internacionais, sobre cada Objectivo, a nível internacional e por região.
Além disso, o PNUD preparará uma avaliação internacional do que é necessário para alcançar os ODM, para a Cimeira do G8, e a Campanha do Milénio e o Overseas Development Instituto publicarão uma ficha de avaliação de progressos no domínio dos ODM, por país.
24-25 de Junho – A Cimeira dos Dirigentes do Pacto Mundial (UN Global Compact Leaders Summit) reunirá os executivos de empresas em Nova Iorque, para avaliar como o sector privado pode contribuir para a realização dos ODM.
28 de Junho – 2 de Julho - Os ministros dos governos reunir-se-ão no Conselho Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) para analisar como avançar no domínio da igualdade de género e do empoderamento das mulheres (Objectivo 3) e avaliar como melhorar a cooperação e a ajuda ao desenvolvimento.
Meados de Setembro – O Report on the MDG Gap Task Force* (Relatório sobre os Atrasos na Realização dos ODM) apresentará os seus dados e recomendações sobre o cumprimento dos compromissos internacionais em matéria de ajuda, comércio, redução da dívida e outros elementos da parceria para o desenvolvimento pedida no oitavo Objectivo de Desenvolvimento do Milénio. A UNICEF lançará o seu relatório anual Progress for Children, que dará ênfase aos ODM.
17-19 de Setembro – Ampla mobilização da sociedade civil, nomeadamente através da iniciativa “Levanta-te e Actua contra a Pobreza”.
* indica os relatórios oficiais destinados à Reunião Plenária de Alto Nível da Assembleia Geral sobre os ODM.
Para obter uma lista de contactos da equipa de comunicação do sistema da ONU. um calendário minucioso e mais informações, consulte o sítio Web www.un.org/millenniumgoals
Departamento de Informação Pública da ONU:
Martina Donlon, + 1 212 963 6816, donlon@un.org
Pragati Pascale, + 1 212 963 6870, pascale@un.org
Lyndon Haviland, + 1 860 575 7691, haviland@un.org
Para os meios de comunicação social – não é um documento oficial
Publicado pelo Departamento de Informação Pública da ONU a 10/03/2010
http://www.unric.org/pt/actualidade/27911-cimeira-da-onu-sobre-os-objectivos-de-desenvolvimento-do-milenio

sábado, 4 de setembro de 2010

Petição Contra a Pobreza e pelos ODM (Urgente)


No Dia Internacional da Solidariedade, reflectimos sobre a importância dos pequenos passos que podemos tomar para mudar o mundo! Lançamos uma petição para pedir aos nossos governantes que na reunião das Nações Unidas liderem um forte ataque para que se cumpram os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio!

http://www.peticaopublica.com/?pi=Pobreza0

Temos até 20 de Setembro para Sensibilizar o Governo Português para que seja líder e assuma de vez os seus compromissos na Assembleia das Nações Unidas sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

Precisamos da tua cumplicidade!

Subscreve a petição e divulga-a pelos teus contactos.

Obrigado,


--
Bruno G. M. Neto
Coordenador de Programa
Pobreza Zero - GCAP Portugal
* * * * *
Rua Visconde Moreira de Rey, n.º 37
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Phone (direct): 00351 218823638

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

101 dias de oração pela paz no Sudão


Para preparar o referendo de 9 de Janeiro sobre a divisão do país

RUMBEK, terça-feira, 17 de agosto de 2010 (ZENIT.org) – A diocese católica sudanesa de Rumbek, no sul do país, realiza uma série de iniciativas pela paz – os chamados "101 dias de oração pela paz" – antes do referendo do próximo 9 de Janeiro, em que se decidirá sobre a independência do sul do Sudão.
Segundo informa a agência africana CISA, esta iniciativa de oração tem como objectivo “unir as diferentes comunidades do sul do Sudão para rezar por um referendo justo, limpo e pacífico”, em consonância com a mensagem dos bispos do Sudão do último dia 22 de Julho.

Naquela ocasião, após uma reunião em Juba, capital administrativa da região autónoma do sul, os bispos convidaram todo o país a um forte compromisso para que o processo de consulta possa-se realizar de “forma transparente e frutífera”, para contribuir ao bem comum do país.

Entre actos a se celebrarem, destaca-se uma Eucaristia pela Paz, a 19 de Setembro, e um Rosário Mútuo a 7 de Outubro. Outros momentos de destaque serão a festa de Cristo Rei, a 21 de Novembro, uma jornada de adoração e jejum a 3 de Dezembro e o Dia Mundial da Paz (1º de janeiro).

Esta iniciativa responde ao apelo dos bispos aos católicos sudaneses para estarem constantemente presentes “no trabalho de construção da paz e de reconciliação, em colaboração com as outras partes e juntamente com a Doutrina Social da Igreja”.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Referendo no Sudão: possíveis cenários


Ashworth (DHPI): “Com a secessão, a vida da Igreja do Norte será mais difícil"
Por Mariaelena Finessi

ROMA, terça-feira, 17 de Agosto de 2010 (ZENIT.org) - Os bispos católicos do Sudão reuniram-se em Juba, de 15 a 22 de Julho, numa sessão plenária extraordinária, para reflectir sobre o próximo referendo previsto para o dia 9 de Janeiro de 2011.
No final desta reunião, os prelados divulgaram uma mensagem de "esperança e um convite à acção". A mensagem dirigi-se aos líderes sudaneses e "às pessoas de boa vontade".
Na redacção do documento, os bispos foram ajudados pelo Denis Hurley Peace Institute, nascido do Departamento "Justiça e Paz" da Conferência Episcopal da África do Sul, cuja missão é auxiliar na formação de líderes católicos com capacidade de actuar também nos processos de paz de outros países africanos.
No Sudão, maior Estado do continente africano, as igrejas, não somente a católica, começaram a desenvolver cursos e seminários para garantir à população do Sul toda a informação sobre o referendo.
"Este é um momento histórico - afirmam os bispos na sua mensagem. O Sudão já não voltará a ser o mesmo. Depois de séculos de opressão e exploração, após décadas de guerra e de violência (...), agora, cinco anos depois do Comprehensive Peace Agreement (CPA), chegou o momento de nos movermos e nos prepararmos para a mudança."
O CPA foi aprovado pelo Norte e pelo Sul do Sudão depois de um sangrento conflito sobre a pertença étnica, a religião e o acesso aos recursos naturais, entre eles o ouro, o algodão e o petróleo. O acordo possibilita aos povos do Sul o direito de escolher se vão continuar a fazer parte de um Sudão unido ou se optam pela independência.
John Ashworth, actual presidente do Denis Hurley Peace Institute, explica nesta entrevista à

ZENIT a actual situação política, social e religiosa do país e os possíveis cenários depois do referendo.
ZENIT: Poderia explicar-nos em que consiste o Comprehensive Peace Agreement (CPA)?
John Ashworth: Na verdade, trata-se de um documento de forma alguma "compreensivo", porque trata apenas dum dos conflitos no Sudão (por exemplo, não aborda a questão de Darfur). Afecta somente duas das partes em guerra, excluindo todos os demais partidos políticos e as facções militares, assim como a própria sociedade civil. Não é nem sequer um documento que fala da "paz"; é simplesmente um cessar-fogo que prevê um roteiro que deveria conduzir à paz.
Naturalmente, fazendo passar o conflito do nível militar ao político, deu-se um grande passo adiante, mas com todo o conflito. Finalmente, nem sequer se pode falar de um "acordo": foi assinado em 2005 por Cartum somente após uma intensa pressão diplomática. Em outros termos, os sudaneses do sul concebem o CPA quase exclusivamente como uma preparação para o referendo de 2011.
ZENIT: Qual é a situação religiosa no Sudão?
John Ashworth: No dia a dia, cristãos, muçulmanos e seguidores de religiões tradicionais africanas vivem uns ao lado dos outros sem problemas. Contudo, o governo do Sudão é um regime islâmico, ou melhor, é uma ditadura militar (recentemente "legitimada" por eleições que, para a maior parte das pessoas, não foram livres e justas), e os sucessivos governos do Norte começaram uma política de islamização que prejudicou os não-muçulmanos.
Todos os dados estatísticos no Sudão são suspeitos, mas a divisão religiosa é provavelmente esta: 60% muçulmanos, 40% não-muçulmanos. Os seguidores da religião tradicional africana são ainda uma minoria consistente entre os não-muçulmanos. Entre os cristãos, os católicos, anglicanos (Igreja Episcopal) e os presbiterianos são os 3 maiores grupos, com uma série de pequenas igrejas evangélicas independentes e algumas igrejas orientais que, todas juntas, sempre trabalharam bem. A Igreja Católica é, além disso, um dos membros fundadores do Conselho das Igrejas do Sudão.
ZENIT: Unidade ou secessão: que significado tem para as pessoas e para os políticos? Um referendo pode resolver os problemas humanitários e económicos do país?
John Ashworth: As causas profundas dos conflitos no Sudão geralmente são consideradas identitárias e ligadas à dinâmica centro-periferia. O Sudão é uma sociedade multicultural, multiétnica, multilingue e multirreligiosa, mas, na prática, uma só identidade, a árabe-islâmica, foi imposta a todos, tentando assimilar os demais e torná-los ao mesmo tempo cidadãos de segunda classe. Isso foi feito por todos os governos do Norte, não só pelo actual regime islâmico.
O Governo do Sudão, incluindo o acesso ao poder e aos recursos, está, no entanto, fortemente centralizado, sendo as áreas periféricas marginalizadas. Além disso, o petróleo converteu-se num factor importante nos conflitos, ainda que não seja uma de suas causas primárias. Estes problemas nunca foram resolvidos por um Sudão unido, e é por isso que o povo do Sul considera que a única solução é a secessão.
Em um Estado próprio independente, o Sul não deverá enfrentar a islamização e a arabização, nem a marginalização do poder, e terá a maior parte do petróleo em seu próprio território. Na verdade, porém, o Sul já está funcionando como um verdadeiro e autêntico Estado, de maneira que a secessão não suporia uma mudança importante. Espera-se que os progressos continuem e que algumas fraquezas do governo possam ser discutidas. As igrejas estão preparando um programa de diálogo, para que ajude também nisso.
Com relação ao Norte, este depende do petróleo do Sul, mas é provável que se possa negociar uma solução conciliadora que lhes permitir continuar a receber provisões dos recursos petrolíferos. Por outro lado, o Sul precisa do gasoduto do Norte para exportar seu petróleo e não quer um vizinho instável e o falido. Como esquecer o conflito do Darfur? Este conflito está destinado a continuar, visto que ainda não há soluções em discussão.
Finalmente, se acontecer a secessão, a vida será provavelmente mais difícil para a Igreja no Norte, pois esta continuará vivendo, ainda que já esteja acostumada, sob um regime islâmico opressor.
ZENIT: As igrejas da África estão a mobilizar-se para que o Sul não se desentenda do referendo. O que espera a conferência episcopal do Sudão? Você se consideraria neutro diante do resultado das urnas?
John Ashworth: Como Igreja, os bispos se atêm à sua última declaração, com a qual analisam a situação do país, explicando alguns dos prós e contras que comportariam inevitavelmente tanto o voto pela unidade como o voto pela secessão; então, exortam as pessoas a escolher seu destino. Como cidadãos particulares, no entanto, cada bispo tem sua própria opinião e já sabe como votará nesse dia.

domingo, 1 de agosto de 2010

O Evangelho é solidariedade


Entrevista com o arcebispo de Tegucigalpa e presidente da Cáritas Internacional
QUERÉTARO, domingo, 1º de agosto de 2010 (ZENIT.org-El Observador) – Nesta entrevista, o cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa e presidente da Cáritas Internacional, compartilha com os leitores de
ZENIT-El Observador uma série de reflexões sobre a instituição de ajuda católica que ele preside, a justiça e o documento emitido pela Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida em 2007.
ZENIT: Caridade e globalização são compatíveis?
Cardeal Maradiaga: Não só compatíveis, mas a caridade tem de globalizar-se. Cristo nos deixou o amor ao próximo; João Paulo nos dizia que em um mundo onde só se globaliza a economia, é preciso globalizar a solidariedade e a maior demonstração de solidariedade é o amor.
ZENIT: Qual é a responsabilidade dos países desenvolvidos com relação aos subdesenvolvidos?
Cardeal Maradiaga: É a corresponsabilidade; isso deve ser um caminho de duas vias, dos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos e vice-versa. Não se trata somente de ajudas humanitárias, como são chamadas por temor a dizer a palavra caridade; este conceito parece estar sendo desvalorizado. Nada mais distorcido. A primeira coisa que Bento XVI nos disse foi “Deus é amor” e não devemos ter complexos de inferioridade ao dar nome às coisas: a caridade é o cume do cristão, é o que de maior existe.
ZENIT: Como se unem as palavras “solidariedade” e “Evangelho”?
Cardeal Maradiaga: Já em si o Evangelho é solidariedade, é Palavra feita carne que vem fazer-se um de nós e se torna Boa Notícia, torna-se Evangelho. O Santo Padre, no primeiro volume sobre Jesus Cristo, dizia que o Reino de Deus não é um lugar, não são coisas; o Reino é uma pessoa, é o Senhor Jesus. Aí está tudo unido: solidariedade, caridade e Cristo.
ZENIT: Qual é a relação entre justiça e meio ambiente?
Cardeal Maradiaga: A campanha que se faz na Cáritas Internacional não é simplesmente ecológica, porque, em nome da ecologia, cai-se no ecologismo, que é uma ideologia a mais, muitas vezes pervertida em panteísmo, que inclusive se converte em anticristianismo. Na Cáritas, falamos de justiça com a criação, justiça com o ambiente. A cúpula de Copenhaga foi, tristemente, um fracasso, porque os grandes do mundo não querem se comprometer em sua responsabilidade com a criação.
Por isso, a Cáritas sustenta que não se trata somente de preocupar-se pelo ambiente; é justiça com a criação. Deus colocou a criação em nossas mãos não para sermos déspotas, nem para sermos abusadores, mas sim administradores. Não podemos herdar um mundo depredado; devemos herdar uma criação convenientemente administrada pela justiça.
ZENIT: Que papel os católicos devem desempenhar para que a justiça e a paz se abracem?
Cardeal Maradiaga: Em primeiro lugar, percebermos que a caridade não se opõe à justiça. O Papa Bento XVI, na primeira encíclica, fala-nos disso. Nos anos 70, quando todas as ideologias olhavam para o socialismo, diziam: “Não se deve dar por caridade o que corresponde por justiça”. Estavam erradas, porque a justiça e a caridade caminham juntas. Quando há justiça, chega a paz; não se pode construir a paz na injustiça; não se pode construir a paz no ódio.
ZENIT: Na sua experiência, os católicos têm consciência da dimensão social da Igreja?
Cardeal Maradiaga: Acho que a consciência existe, mas precisa ser educada. A comunidade cristã deve ser formada no que significa a dimensão social da caridade; é necessária esta instrução, porque as ideologias imperantes no mundo caminham no sentido contrário.
O próprio Santo Padre nos falou do individualismo, tendência contrária ao plano de Deus, que consiste em salvar-nos em comunidade, como Povo de Deus. Isso tem implicações sociais muito grandes; não se pode dizer que se ama a Deus a quem não vemos, se não amamos ao próximo, a quem vemos. Por isso, a Igreja nos deu o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, não como um livro a mais, mas como uma matéria pendente na vida de todos os batizados, que devemos interiorizar para praticar.
ZENIT: Como responder àqueles que qualificam as políticas da Cáritas de assistencialistas, entendendo por esta palavra o sentido mais negativo do conceito?
Cardeal Maradiaga: Os que falam de assistencialismo jamais deram sequer um centésimo para servir o próximo; pude comprovar isso: falam e desprezam, mas eles não colaboram. Uma pessoa que sabe o que é amar o próximo e servi-lo ainda que seja com uma pequena esmola, nunca falará de assistencialismo. Que continuem falando de assistencialismo os que nunca assistem sequer a si mesmos.
ZENIT: Qual é o papel do voluntariado dentro da Cáritas?
Cardeal Maradiaga: É central. A Cáritas não poderia existir sem o voluntariado, porque muitos entendem que a Cáritas é simplesmente acudir a emergências; essa é uma das funções, mas a função principal da Cáritas é educar cada cristão nas dimensões sociais do amor; mostrar que a pessoa não pode fechar-se em seu cristianismo de uma maneira individualista. Todos os programas educativos são de prioridade e todas as Cáritas têm programas de formação e de educação para os cristãos; o ideal é que todas as paróquias possam ter também sua pastoral social organizada, na qual a Cáritas participe.
ZENIT: Que características deve ter a Cáritas do século 21?
Cardeal Maradiaga: As mesmas que tem desde o começo, porque a Cáritas é amor e o amor não muda, só cresce. Agora temos de amar mais do que antes, porque nas coisas do dinheiro, quem tem muito dinheiro e dá muito dinheiro não fica sem nada; nas coisas do amor, quem tem muito e dá muito, cada dia tem mais.
O plano de Deus é que, frente à criação, sejamos administradores, frente a Deus sejamos filhos, frente ao próximo sejamos irmãos. O mundo vê Deus como um inimigo, vê o próximo como um adversário, vê a criação com sentido de exploração. Então, isso tem que mudar; devemos ser mais corresponsáveis, mais solidários, mais cheios de amor.
ZENIT: Em Aparecida se falou de uma mudança de época. Como o senhor vê, três anos depois, o convite à missão permanente?
Cardeal Maradiaga: A missão permanente vai caminhando, com diversas velocidades; em alguns lugares se dedicou o primeiro ano a estudar o documento e nesse passo vi progressos em muitas dioceses e também indiferença em outras. Há alguns que ainda não ficaram sabendo de Aparecida.
Eu gostaria de que todos nós sentíssemos essa necessidade de viver isso, porque é um documento precioso, nele vemos uma inspiração do Senhor. Já se fez um lançamento oficial da Missão Continental, que será um processo. Em alguns lugares, vai dando bons frutos e um deles é a corresponsabilidade entre as dioceses; não podemos pensar na diocese como algo rígido, onde ninguém pode se mover; as fronteiras do amor não são barreiras. Há mais consciência em nosso continente quanto a essa corresponsabilidade.
O projeto descansará basicamente no zelo pastoral dos bispos e dos sacerdotes, porque os leigos estão dispostos. Mas precisamos de que os pastores estejam repletos do coração de São Paulo: “Ai de mim se não evangelizar”.
ZENIT: Há um tema importante: a conversão pastoral...
Cardeal Maradiaga: Para mim, é uma das coisas geniais de Aparecida, porque coloca o dedo na ferida. Depois do Vaticano II, pegamos algumas coisas e permanecemos fazendo mais das mesmas coisas. Mas o Espírito Santo não trabalha assim. A primeira coisa que o Espírito Santo faz é desinstalar-nos; um sacerdote, em uma paróquia, fazendo mais da mesma coisa termina fazendo nada, porque esta mudança de época está nos pedindo coisas diferentes.
Aparecida enfatiza a formação na fé, ou seja, a catequese; nela encontramos uma das lacunas na pastoral. Em minhas paróquias, perguntei: “Como está a educação na fé?” E respondem: “O que é isso?”; outros dizem: “Não temos colégios católicos”.
Segundo a Igreja, o pároco é o primeiro responsável pela educação na fé dos seus fiéis e nos diz o diretório da catequese que deve ser a educação progressiva e sistemática da fé; isso não se cumpre; a catequese é esporádica e pré-sacramental; muitas vezes é tão elementar que encontramos catequistas que são pessoas ótimas e de boa vontade, mas dão uma preparação deficiente. Uma das linhas de conversão pastoral é que o pároco deve se sentir como o primeiro responsável pela formação dos seus fiéis. Ainda não há consciência disso.
ZENIT: Em muitos países, a Igreja se converteu em clientelar, não é verdade?
Cardeal Maradiaga: Todo o continente tem essa problemática; estamos esperando que venham a nós e cada vez chegam menos, porque não estão motivados. Já é hora de sair. Devemos levar o Senhor aos seus ambientes; aqui é onde encontramos um dos grandes defeitos da pastoral: não chegamos a evangelizar a política e os políticos, então, quando alguns – que se chamam bons cristãos – entram na política, a primeira coisa de que esquecem é do Evangelho.
Eu fundei uma universidade católica que agora tem 14 mil alunos. Com muitos esforços, fizemos uma faculdade de ciências políticas e ninguém se matriculou, porque não se considera que para ser político se requer formação; todos acreditam que precisam simplesmente saber todas as manhas. A disciplina pendente é formar autênticos políticos.
Não há muitos políticos dispostos a dar a vida pelo Reino mas há muitos que sucumbem frente ao dinheiro fácil. Quando se trata de perpetuar-se no poder, não importa se atropela-se uma constituição. Ainda estamos engatinhando frente à política do bem comum.
(Por Jaime Septién e Omar Arcega)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sudão: da transição à reconciliação


Mensagem dos bispos ao país
JUBA, quarta-feira, 28 de julho de 2010 (ZENIT.org) – A Conferência Episcopal do Sudão publicou uma mensagem de esperança e exortação à concórdia nacional, ao término de sua reunião plenária, em Juba.
O Sudão, manchado de sangue por um conflito que durou vinte anos, vive atualmente uma situação política e social de estabilidade precária, após as eleições do mês de abril, que confirmaram no poder o presidente Omar el Bashir e o presidente do Governo autónomo do Sudão do Sul, Salva Kiir, informou nesse domingo o jornal vaticano L’Osservatore Romano.
Em janeiro de 2005, em Nairobi, Quénia, foi firmado um acordo de paz (Comprehensive Peace Agreement) entre o Governo central e o Exército Popular de Liberação do Sudão (SPLA), que reconheceu o Governo autónomo do Sudão do Sul, com a previsão de um referendo para a proclamação de Independência.
Além disso, entre o Governo central e o SPLA, foi acordada a subdivisão dos lucros produzidos pelos ricas jazidas de petróleo no centro-sul do país. O Sudão conta com cerca de quarenta milhões de habitantes, dos quais 80% são muçulmanos e 17%, cristãos.
Agora os olhos do país e dos observadores internacionais apontam outro ponto fundamental até a democratização: o referendo, previsto para janeiro de 2011, que poderia, em caso de resultado positivo, permitir à região autónoma do Sudão do Sul ter sua independência.
Sobre o referendo, os bispos convidam todo o país a um forte compromisso, para que o processo de consulta possa ser realizado “de forma transparente e frutífera”. Os prelados afirmam que a Igreja está constantemente presente “no trabalho de construção da paz e reconciliação, em colaboração com as outras partes e na linha de uma doutrina social da Igreja”.
“Após séculos de opressão e de exploração, após decénios de guerra e violência que marcaram e feriram as vidas de muitas pessoas no sul e no norte do Sudão, sem nenhum respeito pela vida e pela dignidade; agora, a cinco anos da firma do Comprehensive Peace Agreement, alcançamos um ponto a partir do qual a mudança está próxima”, afirmam os bispos.
Qualquer que seja o resultado do referendo, especificam os prelados, as pessoas no poder estão convidadas a mudar suas mentalidades e a se esforçar pela pacífica convivência entre as diversas etnias.
Em especial, afirma-se a necessidade de que as autoridades do norte do Sudão “respeitem a liberdade e os direitos humanos, inclusive a liberdade de religião de todos os cidadãos” e que as autoridades do sul “tutelem os direitos das pessoas de outras regiões”.
Bento XVI, no discurso aos bispos do Sudão, em visita ad limina apostolorum, a 13 de março de 2010, destacou que, “se a paz implica estabelecer raízes profundas, temos de realizar esforços comuns para diminuir os fatores que contribuem com os conflitos, em especial a corrupção, as tensões éticas, a indiferença e o egoísmo.
(Nieves San Martín)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quénia: ante novo projeto de Constituição, Igreja defende a vida


O texto será submetido a referendo dia 4 de Agosto


Nairóbi, sexta-feira, 23 de Julho de 2010 (ZENIT.org) – A Igreja no Quénia continua defendendo a vida e lutando contra o aborto, especialmente diante do referendo sobre a Constituição previsto para 4 de agosto.
A Constituição proposta pode abrir portas para uma legislação mais liberal sobre o aborto, que atualmente é ilegal no país, assim como o reconhecimento de tribunais muçulmanos.
Nesse contexto, a Comissão Justiça e Paz organizou o encontro “O aborto e seus efeitos”, para informar sobre o projeto de Constituição e a postura da Igreja, no dia 11 de julho, na basílica da Sagrada Família de Nairóbi, segundo informações da agência CISA.
No encontro, o ginecologista Ngatia Njogu, do Kanyatta National Hospital, destacou a necessidade de que a Igreja mostre sua preocupação pelas questões relativas à vida humana.
No encontro, o professor Kihumbu Thairu, vice-chanceler da Universidade PCEA, também convidou a Igreja a continuar promovendo sua preocupação pelas questões relativas às implicações morais do projeto de Constituição para o povo do Quénia.

Governo americano
Três membros republicanos do Congresso dos Estados Unidos acusaram o governo Obama de utilizar dinheiro destinado à educação cívica no Quénia para apoiar o projeto de Constituição.
Segundo informou a agência Associated Press, uma investigação sobre os fundos de apoio do governo americano à reforma constitucional do Quénia mostram diversas subvenções de apoio ao “sim” na campanha do referendo.
A embaixada dos Estados Unidos no Quénia anunciou na sexta-feira que essas subvenções, precisamente nove, foram suspensas.