sexta-feira, 29 de maio de 2009

1 de Junho - Dia Internacional da Criança


Crise económica empurra milhões de crianças para a exploração laboral e sexual
Com a diminuição da procura na Europa e na América do Norte e a consequente redução das importações provenientes da Ásia, devido à desaceleração da economia, as empresas locais em países como o Cambodja, Tailândia e Índia são forçadas a despedimentos sem aviso prévio obrigando as famílias pobres a recorrer às crianças como fonte de rendimento alternativo.
A organização não governamental World Vision lançou um alerta sobre os efeitos perversos da crise económica. De acordo com os dados desta agência de ajuda humanitária e desenvolvimento, a pobreza extrema conduz as pessoas para situações de total desespero. Muitas famílias são forçadas a vender ou alugar os filhos para pagar dívidas ou para garantir a alimentação do restante agregado familiar.
No Cambodja 72 por cento das crianças que estão nas fábricas de tijolos são obrigadas a trabalhar porque os pais não têm recursos financeiros para pagar comida e 22 por cento permanecem em regime de exploração laboral infantil para garantir que as famílias paguem as dívidas.
Em Phuket, na Tailândia, verificou-se um crescimento dramático do fluxo migratório de crianças de zonas rurais para trabalharem em bares e clubes nocturnos locais alimentando o turismo sexual.
Nas pedreiras da Costa Leste da Índia, crianças trabalham em regime de escravatura mais de 16 horas por dia e sob temperaturas a rondar os 40 graus.
Em todo o mundo 126 milhões de crianças trabalham em condições de risco permanente e anualmente 1,2 milhões são vítimas de exploração e comércio. A exploração sexual constituiu a forma mais comum de tráfico humano, seguida pelo trabalho infantil e pelo recrutamento de crianças soldados. São crianças que crescem sem terem um brinquedo, sem usufruírem de cuidados médicos e sem nunca entrarem numa escola. O seu destino é serem pobres para o resto da vida.
Muitas vezes a angariação de crianças é feita sob o pretexto de uma vida melhor e um emprego permanente nas cidades garantindo uma renda mensal às famílias pobres das zonas rurais. Quando os pais descobrem que os filhos estão em regime de cativeiro são obrigados a pagar uma verba inimaginável para efectuarem o resgate dos filhos.
O aumento do trabalho infantil está a reduzir os salários em algumas zonas do globo. As crianças recebem em média menos 20 por cento do que um operário adulto que efectua a mesma tarefa. O trabalho infantil gera pobreza e a pobreza fomenta o trabalho infantil. Esta situação cria uma espiral descendente de pobreza. Para quebrar o ciclo é necessário inverter valores e apostar na educação, em mudanças legislativas nacionais e em organismos de supervisão internacional que garantam os direitos fundamentais das crianças e alternativas à insuficiência de rendimento das comunidades socialmente excluídas, como o recurso ao microcrédito e outras ferramentas que permitam a autonomização das famílias.
100 anos depois da abolição da escravatura o tráfico humano continua a ser uma prática recorrente nos países mais pobres do planeta. A ONG Christian Aid envia regularmente emissários aos mercados de escravos no Sudão e no Gana para negociar pessoas e restituir‑lhes a liberdade.
Nos últimos meses assistimos a um retrocesso nos Objectivo de Desenvolvimento do Milénio. A crise petrolífera e a crise alimentar lançaram 153 milhões de pessoas no fosso da pobreza extrema. A crise económica, para lá de fazer disparar o desemprego, empurrou mais 100 milhões de pessoas para condições de miséria humana.
A crise económica não pode ser o pretexto para os Estados-membros das Nações Unidas esquecerem os compromissos assumidos em Setembro de 2000 quando assinaram a Declaração do Milénio e prometeram reduzir para metade a pobreza extrema e a fome até 2015.Numa altura em que se aproximam eleições europeias está na nossa mão exigir que os políticos que são eleitos com o nosso voto cumpram as promessas públicas de introduzir políticas que promovam a justiça social e a protecção das comunidades mais vulneráveis.
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João Pedro Martins
Coordenador Nacional
Desafio MIQUEIAS - MICAH Challenge Portugal
Sítio web: http://www.desafiomiqueias.com/
E-mail: desafio.miqueias@gmail.com

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