quarta-feira, 18 de maio de 2011

Papa incentiva “nova evangelização do social”


Audiência com participantes do congresso pelos 50 anos da “Mater et Magistra”

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 17 de maio de 2011 (ZENIT.org) - É necessária hoje, no mundo da globalização, uma nova evangelização do social, que ofereça luz para os desafios e exigências da justiça e do bem comum, afirmou ontem o Papa Bento XVI.

O Pontífice recebeu, em audiência, os participantes de um congresso internacional promovido pelo Conselho Pontifício "Justiça e Paz", no 50º aniversário da encíclica Mater et Magistra, de João XXIII, que está sendo realizado em Roma.

Esta encíclica de João XXIII, sublinhou, "conserva grande atualidade, também no mundo globalizado".

"O Papa Roncalli, com uma visão de Igreja colocada ao serviço da família humana sobretudo mediante sua específica missão evangelizadora, pensou na doutrina social - antecipando o Beato João Paulo II - como um elemento essencial para esta missão, por ser parte integrante da concepção cristã da vida."

Para João XXIII, a doutrina social da Igreja "tem a Verdade como luz, o Amor como força propulsora, a Justiça como objetivo", elementos que o Papa Bento XVI retoma da Caritas in veritate.

"A verdade, o amor e a justiça, indicados pela Mater et Magistra, junto ao princípio do destino universal dos bens, como critérios fundamentais para superar os desequilíbrios sociais e culturais, continuam sendo os pilares para interpretar e buscar solucionar também os desequilíbrios internos da globalização atual", observou o Papa.

Novos desafios

O Pontífice alertou que hoje as finanças, "após uma fase mais aguda da crise, voltaram a praticar com frenesi contratos de crédito que frequentemente permitem uma especulação sem limites".

Estão ocorrendo também "fenômenos de especulação daninha com referência aos produtos alimentícios, a água, a terra, acabando por empobrecer ainda mais aqueles que já vivem em situações de grave precariedade".

Também sublinhou "o aumento dos preços dos recursos energéticos primários, com a conseguinte busca de energias alternativas, guiadas, às vezes, por interesses exclusivamente econômicos de curto prazo", que "acabam por ter consequências negativas sobre o meio ambiente, além de sobre o próprio homem".

A questão social, prosseguiu, "é, sem dúvida, uma questão de justiça social mundial", de "distribuição equitativa dos recursos materiais e imateriais" e de "globalização da democracia substancial, social e participativa".

Por isso, "em um contexto em que se vive uma progressiva unificação da humanidade, é indispensável que a nova evangelização do social evidencie as implicações de uma justiça que deve ser realizada universalmente".

Esta justiça, destacou, não pode ser alcançada "apoiando-se no mero consenso social, sem reconhecer que este, para ser duradouro, deve estar arraigado no bem humano universal".

Além disso, "deve levar-se a cabo na sociedade civil, na economia de mercado, mas também por parte de uma autoridade política honrada e transparente proporcional a ela, também no âmbito internacional".

Nova evangelização social

Frente a estes desequilíbrios, é necessário "restabelecer uma razão integral que faça renascer o pensamento e a ética".

"Sem um pensamento moral que supere a apresentação das éticas seculares, como as neoutilitaristas e neocontratualistas, que se fundam em um substancioso ceticismo e em uma visão prevalentemente imanentista da história, torna-se árduo para o homem de hoje aceder ao conhecimento do verdadeiro bem humano."

Assim, acrescentou, "é necessário desenvolver sínteses culturais humanistas abertas à Transcendência, mediante uma nova evangelização - arraigada na lei nova do Evangelho, a lei do Espírito".

"Somente em comunhão pessoal com o Novo Adão - Jesus Cristo -, a razão humana é curada e potencializada, e é possível chegar a uma visão mais adequada do desenvolvimento, da economia e da política, segundo sua dimensão antropológica e as novas condições históricas."

Além disso, é necessária uma razão "restabelecida em sua capacidade especulativa e prática", para dispor "critérios fundamentais para superar os desequilíbrios globais, à luz do bem comum".

Para o Papa, de fato, "sem o conhecimento do verdadeiro bem humano, a caridade se desliza rumo ao sentimentalismo; a justiça perde sua ‘medida' fundamental; o princípio do destino universal dos bens é deslegitimado".

Na Mater et Magistra, João XXIII recordava que "é possível captar melhor as exigências fundamentais da justiça quando se vive como filhos da luz", afirmou Bento XVI, sublinhando a necessidade de "uma nova evangelização do social e do testemunho da vida nova segundo o Evangelho".

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