quinta-feira, 29 de abril de 2010

Imigrantes submetidos a “exploração intolerável”


RABAT, quarta-feira, 28 de abril de 2010 (ZENIT.org).- Os bispos do Norte da África, reunidos em Rabat, em Marrocos, denunciaram o que chamaram de "exploração intolerável" a que estão submetidos os imigrantes.
A reunião da Conferência Episcopal Regional do Norte da África (CERNA), realizada em Rabat entre os dias 20 e 24 de abril, possibilitou um frutífero intercâmbio de opiniões sobre a situação dos países e das Igrejas da região, afirma um comunicado enviado à agência Fides.
Mesmo em meio à diversidade de situações que caracteriza a vida na região, foi possível constatar como os participantes do encontro estiveram unidos pela intenção de servir as comunidades católicas a eles confiadas, com base na liberdade religiosa reconhecida pelos Estados.
Os bispos do Norte da África buscam atuar em colaboração ecumênica com outras igrejas cristãs reconhecidas, vivendo e trabalhando - sem qualquer espírito de proselitismo - diretamente com as populações, em sua maior parte muçulmanas, que os acolhem e com as quais têm estreitos laços de amizade.
Os prelados sublinharam a solidariedade vivida como experiência no serviço aos menos favorecidos, em colaboração com as associações da sociedade civil nos países do Maghreb.
A reunião da CERNA abordou em particular a questão dos imigrantes "em situação irregular", especialmente as mulheres e crianças, particularmente vulneráveis, a ponto de muitos deles estarem submetidos a uma "exploração intolerável".
"Diante deste problema, que exige uma maior atenção por parte da comunidade das nações, os membros da CERNA trocaram opiniões sobre a assistência humanitária e pastoral, uma ajuda modesta, mas muito concreta, segundo o espírito do Evangelho e em conformidade com o magistério da Igreja."
Discutiu-se ainda o papel das bibliotecas disponibilizadas para os estudantes de todas as dioceses, como locais de encontro e diálogo intercultural, e foram definidas as disposições para que estes trabalhos continuem.
Os quatro delegados da CERNA presentes na 2ª Assembléia Especial para a África, do Sínodo dos Bispos, apresentaram as conclusões do sínodo e destacaram a atenção dada pelos prelados às relações entre o Maghreb o restante do continente africano.
Os membros da CERNA que participaram dos trabalhos preparativos do Sínodo para o Oriente Médio, que será realizado em outubro, analisaram os meios pelos quais o envio de pessoal religioso oriundo do Oriente Médio poderia ser útil às dioceses norte-africanas.
A próxima reunião da CERNA será realizada na Argélia, entre 29 de janeiro e 3 de fevereiro de 2011. Nesta ocasião, será aprovado um documento teológico sobre a presença da Igreja nos países do Norte da África.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Recessão global condena 53 milhões à miséria


WASHINGTON, 27 de abril de 2010 (ZENIT.org). – A crise económica global levará à "extrema pobreza" 53 milhões de pessoas e causará, dentro dos próximos cinco anos, a morte de mais de um milhão de crianças, segundo um relatório elaborado em conjunto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
O relatório, mencionado na edição de domingo do “Observatore Romano”, avalia a realização das Metas do Milénio estabelecidas pela ONU em 2000.
Apesar disso, o número de pessoas consideradas pobres em – que vivem com menos de 1,25 dólares por dia – se reduzirá, até 2015, à metade dos números registrados em 1990.
A crise económica de 2008-2009 e a alta nos preços dos alimentos que a precedeu terão consequências devastadoras para a população mundial.
Quase 1 milhão de pessoas devem enfrentar graves dificuldades para ter acesso a alimento, e as mais vulneráveis, como crianças, mulheres grávidas e idosos, estarão sob risco de morte.
De acordo com a maioria dos especialistas, as oito Metas para o Milênio não poderão ser alcançadas nos prazos estabelecidos. Particularmente, a meta de reduzir a mortalidade infantil nos países em desenvolvimento para 34 por mil é bastante inverossímil. Segundo analistas, esta taxa será, em 2015, de cerca de 68 por mil.
Foi também apresentado em Washington o relatório do FMI sobre a situação econômica na África subsaariana. O crescimento económico médio da região em 2010 deverá fica em torno dos 4,75%, e em 2011, em 5,75%, contra os 2% registrados em 2009.
“A relativamente contida recessão económica da região deve-se à saúde geral das economias locais no ano anterior à crise, e às políticas macro-econômicas implementadas em vários países”, diz o relatório.
A situação da fome na região permanece, no entanto, em níveis alarmantes. Cerca de 10 milhões de pessoas estão sendo afetadas pela grave crise alimentar que se abateu sobre vários países da região norte-africana do Sahel. Em especial, segundo dados da ONU, 7,8 milhões de habitantes no Níger se encontram em “estado de insegurança alimentar”.

(Nieves San Martín)

domingo, 25 de abril de 2010

Um rosto africano para a Igreja em Gana


Entrevista com o arcebispo de Acra

ACRA, domingo, 25 de abril de 2010 (ZENIT.org).- A Igreja Católica em Gana tem pouco mais de 125 anos e está fazendo a transição para ser uma Igreja missionária verdadeiramente ligada ao país, utilizando os idiomas locais para a Bíblia e o culto.
Embora esse processo esteja em andamento, ainda existem muitos desafios para superar.
Nesta entrevista concedida ao programa de televisão "Deus chora na Terra", deCatholic Radio and Television Network (CRTN) em colaboração com Ajuda à Igreja que Sofre, Dom Gabriel Palmer-Bucke, arcebispo de Acra (Gana), analisa os progressos e o trabalho a se realizar.

-O lema dos missionários era: "a África deve ser evangelizada pelos africanos". Até que ponto isso está na atual realidade em Gana?
-Dom Palmer-Buckle: De fato, foi o Papa Paulo VI que em uma ocasião em 1969, na fundação do que chamamos de Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar, disse: "Devem ter um cristianismo africano".
-E isso tem ocorrido em Gana?
-Dom Palmer-Buckle: Em grande parte sim. Agora temos 19 dioceses em Grana, e todos os bispos são locais. De fato, há dioceses que já vão para a quarta geração de bispos de Gana. O último bispo estrangeiro creio que deixou Gana no início dos anos 70.
-Qual foi a importância desses primeiros missionários para a Igreja em Gana?
-Dom Palmer-Bucke: Devemos dar graças a Deus por eles. Começaram em 1880, os padres SMA - Sociedade dos Missionários da África - foram os primeiros a vir para o sul, a Elmina, próximo de Cape Coast, na costa, e começaram a evangelização de forma gradual ao longo da costa até o norte.
-Com grandes sofrimentos físicos... para esses europeus que vieram a Gana, não?
-Dom Palmer-Buckle: Sim. Gana naquele tempo era chamada de cemitério do homem branco, porque muitos morriam de malária em seis ou oito semanas após sua chegada. Mas devemos agradecer a Deus por sua persistência, sua perseverança... Os missionários continuam vindo. Vieram homens e mulheres. Nossa Senhora dos Apóstolos, que é a congregação feminina dos SMA, também veio em 1882, para evangelizar gradualmente o sul. No norte havia os SMA, que baixavam naquela época de Uagadugu, em Alto Volta, agora Burkina Faso, e se estabeleceram em 1906 em Nayrongo. Eles começaram a evangelização da zona norte também de forma gradual, descendo e alcançando a zona central do país. Hoje, segundo as estatísticas de Gana, deve ter cerca de 1.400 sacerdotes e entre eles cerca de 1.000 são ganeses e indígenas.
-Portanto há um bom fundamento?
-Dom Palmer-Buckle: Muito bom. Temos cerca de 800 irmãs religiosas, das quais quase metade ou mais são indígenas, são ganesas. Temos cerca de 600 religiosos e mais da metade também é de Gana.
-Há muitas esperanças para a Igreja local?
-Dom Palmer-Buckle: Muitas, muitas esperanças. De fato, muito mais desafios devido às pessoas. O país tem uma população de cerca de 22 milhões. A população católica é ligeiramente inferior a 20% da população total. Os protestantes - anglicanos, metodistas, presbiterianos, batistas entre outros - somam cerca de 18% também, um pouco menos que os católicos. Os muçulmanos são cerca de 16%. Os petencostais são ainda mais agora. Eles entraram em algum momento de 1929.
-Mas estão crescendo com rapidez?
-Dom Palmer-Buckle: Muito rápido. São cerca de 24% da população. Assim, Gana pode se vangloriar de que 68% da população é cristã.
-As pessoas de Gana têm um profundo amor pela Palavra de Deus. De fato, diz-se que se alguém vai ao mercado e começa a pregar, os que estão no mercado param e escutam porque é a Palavra de Deus. De onde vem esse amor pela Palavra?
-Dom Palmer-Buckle: Não só pregam a Palavra de Deus. As pessoas conhecem as Escrituras muito bem. Temos de dizer que devemos agradecer as Igrejas protestantes e, em especial os petencostais, por terem feito crescer o amor pela Palavra de Deus, as Escrituras, a Bíblia. Mas também temos de dizer que trabalhamos juntos de modo ecumênico. Por exemplo: no ano passado, Gana celebrou seu 50° aniversário como país independente, e um dos projetos do Conselho Cristão e da Conferência Episcopal Ganesa distribuiu um milhão de Bíblias aos jovens nas escolas secundárias. Já distribuímos 250.000 - não só na Igreja Católica, mas em toda família cristã. Estamos distribuindo ainda mais porque novo povo gosta de ler as Escrituras.
-Gana não é apenas cristã, ainda existem muitas religiões tradicionais. Quais são as diversas formas de religiões tradicionais que ainda existem em Gana?
-Dom Palmer-Buckle: Em nosso último censo que ocorreu no ano 2000, apenas 8% da população ainda se mantém na religião tradicional.
-Seriam animistas, essas religiões das quais falamos?
-Dom Palmer-Buckle: A palavra "animismo" já não é muito usada devido a que o animismo significa crer em espíritos. Acreditamos no Espírito Santo, mas nós somos animistas? A diferença é que eles acreditam que a floresta tem espíritos, que as águas têm espíritos, as rochas têm espíritos, toda a criação possui espíritos e eles continuam vivendo com essas coisas e o que admiramos disso é seu respeito pela criação, seu respeito pela ecologia. Esta é uma das coisas que nós estamos lidando: a proteção da criação, a conservação do meio ambiente. Estamos focando nisso e parece que há uma boa ressonância.
Outra coisa deles que temos de avaliar é que eles mantiveram nossa forma de governo tradicional: muitos de nossos chefes celebram ritos, que se encaixam em sua cultura religiosa e eles conservaram. Também mantiveram unida a família, o respeito entre pai, mãe e filhos; mantiveram esses aspectos e estão começando a ver que o cristianismo, em um determinado momento, acentuou mais a salvação dos indivíduos contra a perspectiva comunitária e social da comunidade, na história da salvação. Estamos dando continuidade e focando nisso.
-Fazer-se cristão significa muitas vezes abandonar alguns aspectos tradicionais. Onde e como estão tentando encontrar na Igreja um equilíbrio nesse aspecto?
Monsenhor Palmer-Buckle: Devemos admitir que, desde mais ou menos 1880 até o Vaticano II, a mentalidade foi que todos os tradicionais eram pagãos, era demoníaco, e não era bom. Graças ao Vaticano II, a Igreja nos permitiu apreciar os valores de nossa cultura. Estamos começando a nos dar conta de que há muito em comum, por exemplo, nos ritos de nosso povo. Eu venho de Acra; lá existem ritos de tirar, de expor a criança quando nasce.
-Que é isso?
-Dom Palmer-Buckle: Isso significa que recebe um nome. Exibem a criança diante do público. Dão-lhe um nome, que normalmente é um nome de um ancestral que viveu uma boa vida, porque acreditam que o ancestral escolhido protegerá a criança. A criança não se torna propriedade de seus pais, mas de todo o clã, e o clã assume sua responsabilidade para com a criança. Esse é um belo rito. Fiz minha tese de doutorado sobre isso, para mostrar sua semelhança com o batismo, com o qual uma pessoa renasce na família de Deus e é dado um nome a ela.
-Será que integram o batismo nesse ritual tradicional?
-Dom Palmer-Buckle: Em muitos lugares sim, eles têm um ritual tradicional pela manhã, muito cedo, pois deve ocorrer antes do nascer do sol e, logo, acontece o batismo na tarde de sábado.
-Há elementos da religião tradicional que a Igreja tem de rejeitar como a poligamia e temas similares. Como a Igreja trabalha com as culturas locais e tradicionais para tentar lidar com esse tipo de problema?
-Dom Palmer-Buckle: Não só a poligamia, temos também ritos muito violentos relacionados com a viuvez e outros ritos que tentamos lidar...
-Poderia nos dar alguns exemplos?
-Dom Palmer-Buckle: Quando morre o marido de uma mulher, ela é maltratada e, em algumas ocasiões, submetida a várias formas de crueldade, que podem culminar até na expulsão de casa.
-Por que pensam que de alguma forma ela seria responsável pela morte de seu marido?
-Dom Palmer-Buckle: Em alguns casos, de maneira ignorante, pensa-se assim. Em outros casos, é uma espécie de terapia de choque para que ela consiga superar o fato de ter perdido seu marido. Assim há aspectos positivos e aspectos negativos - devido à maldade humana algumas vezes os negativos ocultam os positivos.
Agora a poligamia por exemplo. Um homem é casado com duas ou três mulheres, tem filhos, todos trabalham com ele em uma fazenda, adquiriram juntos a propriedade, os filhos são mão de obra para a fazenda. Agora, a dificuldade do cristianismo foi chegar e dizer ao homem: deixe duas de suas três esposas e mande seus filhos para longe...
-Na prática, um homem vem ao senhor e diz: quero ser cristão, quero me batizar, vivo em uma relação de poligamia, tenho quatro esposas. Como a Igreja responde numa situação dessas?

-Dom Palmer-Buckle: Oficialmente lhe dizemos o que diz a Igreja: um homem, uma mulher. Normalmente, aconselhamos que o homem deve eleger a mulher mais antiga dos relacionamentos, mas também tentamos ajudá-lo a cuidar de seus filhos e das mulheres sem fazer uso dos direitos conjugais que ofendem a moralidade cristã, o adultério. E não é fácil. Houve casos em que os descendentes dessas mulheres, junto com o homem, culparam a Igreja de arruinar seu sistema familiar porque em muitos lugares vivem em paz uns com os outros. Os meninos se identificavam com as três mulheres como suas mães e, quando falta o pai, as mulheres cuidam de todos os filhos. Mas há outras situações, com muita rivalidade entre as mulheres e entre seus filhos, o que cria muita dor.
Então, o que tentamos fazer é acompanhá-los enquanto crescem. Uma vez que aceitam Cristo, devemos acompanhá-los no crescimento de sua fé, enquanto crescem no conhecimento. Pela graça de Deus, os que foram batizados, eliminam o que chamamos de restos pecaminosos de coisas como a poligamia, ritos da viuvez e outros ritos que não estão em acordo com a fé cristã.
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Na internet: http://www.wheregodweeps.org/

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Caritas Internacional adverte para perigo de fome no Níger


800 mil crianças no Sahel ocidental sofrem de desnutrição severa

NIAMEY, 23 de abril de 2010 (ZENIT.org). - Caritas Internacional afirma que a crise alimentar no Níger e em outras partes do Sahel ocidental deve ser enfrentada urgentemente antes que o início da estação das chuvas torne a distribuição de alimentos nas regiões mais remotas impossível.
"Em algumas áreas, a situação é muito grave. Algumas pessoas estão se alimentando apenas plantas silvestres. É preciso que a ajuda chegue rapidamente. Em 45 dias, se iniciará a estação das chuvas e algumas áreas ficarão incomunicáveis", disse o voluntário da Caritas Níger Bruno Sossou após uma visita exploratória a algumas aldeias remotas.
Como consequência direta da crise alimentar, as pessoas estão abandonando as aldeias em grande número em direção às cidades de países vizinhos. Muitas escolas estão fechando por falta de estudantes, e os campos já não estão sendo cultivados.
A situação em Níger é especialmente preocupante, mas toda a região do Sahel ocidental foi afetada pela crise. Milhões de pessoas se encontram em risco devido às secas e os efeitos de longo prazo das crises alimentares anteriores.
Cerca de 800 mil crianças menores de cinco anos em Burkina Faso, Mauritânia, Mali, Níger, no norte da Nigéria e no Chade estão classificadas como necessitadas de tratamento por desnutrição severa.
"A crise tem sido subestimada no Níger. A insegurança alimentar era um tema tabu sob o governo anterior, derrubado por um golpe em 18 de fevereiro. Apenas com a pressão dos meios de comunicação e das associações internacionais é que o governo decidiu levar adiante uma investigação sobre o tema, e que se pode avaliar as dimensões da emergência", disse Raymond Yoro, secretário-geral da Caritas Níger.
Cerca de 7,8 milhões de pessoas - 60% da população do Níger - estão sem comida, segundo a investigação conduzida pelo governo em dezembro passado.
"O ambiente político é crucial para que as intervenções tenham êxito. Ao menos agora estamos livres para coordenar nossos esforços com outras ONGs, e temos acesso a informações geográficas detalhadas que nos permitem chegar onde a ajuda é mais necessária", disse Yoro.
A Caritas se prepara para lançar uma campanha de ajuda alimentar de emergência aos mais vulneráveis de Níger. Planeja distribuir ajuda a quase 250 mil famílias em 327 aldeias.
A ajuda consiste na distribuição de cereais e na promoção de atividades remuneradas, dando prioridade às crianças e mulheres grávidas ou que estejam amamentando.
"Em primeiro lugar, precisamos enfrentar a emergência oferecendo alimento. Mas pretendemos implementar em breve um programa de reabilitação da capacidade de produção de alimento, promovendo atividades que gerem renda nas regiões rurais, a fim de alcançar uma melhoria na segurança alimentar", explicou Maliki Oumarou, responsável pela operações de emergência da Caritas Níger.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

NOTÍCIAS AEFJN – 39 – MARÇO 2010


Para uma informação mais completa sobre os assuntos que mais o interessarem, poderá consultar o link de cada título.

Grupo Africano na ONU exige o cumprimento das promessas para o Desenvolvimento

http://tinyurl.com/ybp2578

O Grupo africano na ONU pediu que seja imediatamente cumprido o compromisso de Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA) para a África. O grupo pediu também que o Grupo dos 8 países mais industrializados (G8) honre a sua promessa de duplicar, a partir de 2010, a assistência oficial a este continente.

Pesca ilegal nas águas da Guiné é a pior do mundo
http://www.ipsnews.net/africa/nota.asp?idnews=50771
A pesca ilegal atinge constantemente os países mais pobres da África ocidental porque esta prática ocorre sobretudo nas águas orientais e centrais do oceano Atlântico, que cobrem as águas territoriais de cerca de 15 países africanos, desde Marrocos e Mauritânia, no Norte, a Angola, no Sul. A Guiné e a Serra Leoa estão entre os mais afectados e a maioria dos navios e empresas envolvidas na pesca ilegal operam sob as bandeiras da China, Rússia, Indonésia e Panamá, mas também da União Europeia e de outros países industrializados como Portugal, Itália e Japão.
A pesca ilegal pratica-se sobretudo nestas águas centrais e orientais do Atlântico e aumentou nos últimos 10 anos, de acordo com o Centro Técnico de Cooperação Agrícola e Rural (CTA), um órgão da EU criado para divulgar, à África, Caraíbas e países do Pacífico, informações relativas ao excesso de pesca, que dizimou várias espécies de peixe, desde o atum ao bacalhau.
Os países em desenvolvimento são os que mais riscos correm com a pesca ilegal. «Calcula-se que as capturas (ilegais) na África Ocidental sejam 40% superiores às capturas legais», segundo os Consultores londrinos MRAG.
A Fundação de Justiça Ambiental (EFJ), sediada em Londres, caracteriza esta pesca ilegal nas águas territoriais da Guiné como a «pior da África» o que significa a pior a nível mundial. Segundo o relatório do Departamento para o Desenvolvimento Internacional (DfID), a Guiné também perde por ano 34.000 toneladas de peixe com a pesca ilegal, incluindo 10.000 toneladas de bycatch. O Bycatch é um eufemismo para a quantidade de peixe que é rejeitada e deitada fora pelos pescadores. Oficialmente, os pescadores da Guiné pescam cerca de 54.000 toneladas por ano, pela via legal. Isto significa que a pesca ilegal representa 2/3 do registo de pescas legais no país.
Enquanto algumas listas registam navios da China, Rússia, Panamá, Tunísia e Indonésia e outros países do mesmo tipo, mas nenhum da Europa Ocidental, a lista do Greenpeace inclui navios de Portugal, Itália e Japão. Em numerosas empresas pesqueiras europeias, os produtos da pesca ilegal representam entre 2/3 e 1/2 das capturas.
Num comunicado à imprensa, em 27 de Outubro de 2009, a Comissão Europeia calcula que 10% das importações de peixe e marisco (cerca de 1,7 mil milhões de USA$) possam ter origem ilegal. Algumas autoridades portuárias europeias autorizaram a entrada de navios e de empresas da lista negra. Por exemplo, a EJF chama ao porto espanhol de Las Palmas de Gran Canaria «o mais notório porto de conveniência» pois oferece os seus serviços a barcos de pesca piratas que operam ao largo da costa ocidental da África.
Devido ao estatuto do porto de Las Palmas – zona franca – as empresas que aí têm sede «gozam de um grande número de privilégios fiscais e aduaneiros que facilitam a organização, o transporte e a venda de peixe capturado ilegalmente», declarou à IPS Duncan Copeland, da EJF. Las Palmas tem sido uma entrada fácil para o grande mercado europeu de peixe e marisco, e o centro para o transporte do peixe capturado ilegalmente para outros grandes mercados como a Ásia Oriental.

Quénia: alunos regressam às suas casas devido a um alerta de cólera
http://www.irinnews.org/Report.aspx?ReportId=88577
Cerca de 11.000 alunos de diversas escolas de Msambweni e Kwale, distritos costeiros do Quénia, foram obrigados a voltar para suas casas antes da data prevista para as férias de Páscoa por causa de um alerta de cólera na região. A responsável pelo ensino no distrito de Msambweni, Brigide Wambua, declarou à IRIN que o departamento tinha decidido fechar as escolas para impedir os alunos de contraírem cólera e outras doenças associadas à água que foram registadas na região.

Gana: produção maciça de jatrofa ameaça a segurança alimentar

http://www.ghanaian-chronicle.com/thestory.asp?id=16673&title=Massive%20jatropha%20farming%20threatens%20food%20security
Um estudo realizado pela Action Aid Ghana (AAG) e pela FoodSPAN em quatro regiões do Gana revelou que a produção de biocombustível está a ameaçar a produção agrícola dos agricultores locais. O estudo indica que, devido à falta de uma política razoável de produção de biocombustível no país, a sua produção está a ter efeitos negativos na segurança alimentar, no ambiente, nos direitos humanos e, em geral, na subsistência das comunidades afectadas.
Segundo este relatório, o pior foi que, em muitos casos, as empresas envolvidas na produção de biocombustível foram buscar mão-de-obra fora das comunidades próximas das áreas de produção e que isso provocou um desemprego importante à medida que o projecto passava da fase de preparação do solo para a da plantação. As empresas ocuparam grandes extensões de terra para a produção de jatrofa, sendo as menores de 75 acres. As terras aráveis são geralmente favoráveis à produção de culturas locais e foram desviadas para a cultura de jatrofa, excepto na região do Volta. A produção de biocombustível caracteriza-se pelo uso extensivo de herbicidas, por exemplo o Sunphosate, e o risco futuro de poluição da água. A produção em grande escala exige também maquinaria pesada que destrói a floresta, a cobertura vegetal, a biodiversidade e as árvores com rendimento económico.

Situação actual da tripanossomíase africana que ataca o homem (HAT)
http://www.tropika.net/svc/review/Chinnock-20090320-Review-Tryps
A doença do sono (tripanossomíase humana - HAT) ilustra muitos dos problemas que os investigadores e os políticos enfrentam em relação às doenças infecciosas entre as populações mais pobres. Para começar, não há consenso sobre o número de doentes, nem um relatório sobre os malefícios desta doença. Esta questão foi recentemente estudada num artigo da PLoS Neglected Tropical Diseases. A HAT é uma doença fatal, se não for tratada, e é causada por uma infecção provocada pelo Trypanosoma brucei rhodesiense ou pelo Trypanosoma brucei gambiense. Os portadores são os insectos do género glossina (mosca tsé-tsé) que se encontram apenas em África. A variedade gambiense ocorre na África Ocidental e Central e a variedade rhodesiense ocorre na África Oriental. Teme-se que tenha havido evolução entre as duas variedades.

Perspectiva de o Sudão se dividir
http://www.enoughproject.org/
Tudo indica que o Sudão, o maior país da África, se vai dividir em dois brevemente – pacífica ou violentamente. A administração Obama deve fazer tudo para evitar que isto aconteça – é o que se lê num novo relatório de Enough Project, do Center for American Progress.
Prevê-se que a população do Sul do Sudão vote a separação dos seus vizinhos do Norte, quando se efectuar o referendo de autodeterminação marcado para Janeiro de 2011. No entanto, a situação de fraca segurança no Sul pode tornar difícil a realização das eleições nacionais previstas para Abril; e como algumas cláusulas do CPA (Acordo de Paz) ainda não foram implementadas, o referendo e o seu resultado não estão minimamente garantidos.
A ONU, garante do CPA, terá de trabalhar em todas as frentes e em todas as direcções para sustentar a vontade de pacificação do povo do Sul do Sudão e evitar o regresso ao conflito, afirma Maggie Fick, investigadora política da Enough em Juba. «Os partidos políticos sudaneses terão duras tarefas a realizar para prepararem o referendo de 2011 e os seus resultados. O papel da comunidade internacional é reduzir os riscos de as próximas negociações se desenvolverem num ambiente político tão carregado que o acordo entre os partidos se torne impossível».

Burkina Faso: O Governo pára a privatização da água e da electricidade
http://www.afrol.com/articles/35615
Com uma decisão notável, o governo do Burkina Faso decidiu retirar os serviços estatais de água e electricidade da lista das empresas a privatizar. Num desafio ao FMI, o governo decidiu que seria suficiente reestruturar a administração das empresas.

O Ghana pode evitar a maldição do petróleo?
http://blogs.reuters.com/africanews/2010/03/25/can-ghana-avoid-the-oil-curse/
Num gesto democrático raro numa região conhecida como favorável às ditaduras, o Gana pergunta aos seus cidadãos o que fazer com os benefícios inesperados da produção petrolífera que vai começar este ano. Num questionário intitulado «O Uso e a Gestão dos Lucros do Petróleo e do Gás – Pesquisa sobre Escolhas Públicas», lançado pela a Internet, na página do Ministério das Finanças, o Gana afirma que as nações produtoras de petróleo estão a enfrentar grandes problemas e quer evitar que estes problemas se reproduzam no país.

Pior surto de cólera nos últimos anos em Lusaka


Em Lusaka, a capital da Zâmbia, está a assistir-se ao pior surto de cólera dos últimos anos. São os Médicos Sem Fronteiras que o afirmam num comunicado à imprensa datado de 12 de Abril de 2010. Segundo esse comunicado, “durante as últimas cinco semanas o número de casos de cólera subiu dramaticamente acima de 4.500, e mais de 120 pessoas perderam as suas vidas”.

Centros Provisórios de Tratamento

Neste momento, a preocupação dos Médicos Sem Fronteiras é conter a doença. Para isso criaram três centros de tratamento de cólera (CTC) em Matero, Chawama e Kanyama. O número de casos é, de facto, alarmante. Em colaboração com o Ministério da Saúde da Zâmbia, os Médicos Sem Fronteiras trataram já 4.020 doentes desde o dia 4 de Março.

Nestes centros montaram um número elevado de tendas provisórias para facilitar o internamento e tratamento dos casos que chegam diariamente. “Na semana passada”, diz o mesmo comunicado, “assistimos ao ponto mais alto deste surto com mais de 1.054 internamentos”. Por isso, há agora alguma esperança de que o número de casos comece a diminuir.

Na semana passada fui visitar um desses CTC em Matero, uma vez que é o centro que serve a zona de Lilanda onde me encontro. Uma das responsáveis pelo CTC de Matero disse-me que não estão autorizados a falar nem a deixar ninguém visitar o centro. Depois de conversarmos um pouco, deixou-me fotografar as tendas. Certamente nos dá uma ideia das dimensões da situação e do secretismo que se criou à sua volta.

Necessidade de Água Potável e Instalações Sanitárias

A propagação da cólera tem a ver com a qualidade da água e dos esgotos. Por isso, os Médicos Sem Fronteiras estão a fazer um grande esforço para fazer chegar água potável às populações das áreas mais pobres da cidade.
Quando falamos de cólera na Zâmbia, não falamos nada de novo, pois ela é endémica. A situação repete-se ano após ano durante a estação da chuva. Aqui em Lilanda, o número de casos tem sido muito reduzido devido a um projecto de abastecimento de água que o Governo do Japão desenvolveu nesta área em parceria com o Governo da Zâmbia. Este projecto proporciona água potável a toda esta área da cidade, abrangendo uma população de mais de 100 mil pessoas.

As zonas mais afectadas pela cólera (e por outras doenças como a sida, tuberculose, etc.) são as zonas pobres da cidade; estas zonas são normalmente abandonadas pelos políticos que só aparecem em tempo de eleições. Talvez um dia o Governo se dê conta que estes são também cidadãos da Zâmbia.

Horácio Rossas (Missionário Comboniano, em Lusaka, na Zâmbia)
19 de Abril de 2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

ELEIÇÕES NO SUDÃO: CONTAGEM DOS VOTOS


O processo de contagem dos votos está em pleno e algumas mesas já apresentaram resultados finais. Algumas mesas estão mais atrasadas, porque iniciaram a cotagem mais tarde depois de resolverem algumas reivindicações de pagamento de serviços.
A avaliar pela ronda que esta manhã fiz por meia dúzia de centros de voto, Salva Kiir Mayardit é o novo presidente do Sul do Sudão com uma margem esmagadora sobre o seu rival Lam Akol.
Para a Presidência da República, o candidato do SPLM tinha o dobro dos votos do presidente Omar al-Bashir apesar de ter desistido da corrida.
As eleições para o governador de Equatoria Central prometem ser renhidas com o candidato independente Alfredo Laru Gore com uma ligeira vantagem sobre o governador em exercício e ex-senhor da guerra Clement Wani Konga.
As atenções contudo estão fixadas na Equatória Oriental porque a refega eleitoral entre a governadora em exercício e o candidato independente – ambos do SPLM – poder desancar em violência.
Entretanto, a União Europeia e o Centro Cárter apresentaram hoje os relatórios preliminares dos seus observadores e o veredicto é comum: as eleições estão longe de respeitar os critérios internacionais.
Corrupção, problemas de logística, e intimidação encontram-se entre os problemas detectados.
Ana Gomes, que chefia uma delegação de eurodeputados, é mais positiva: as eleições permitiram um debate político nunca antes experimentado no país.
Os resultados finais devem ser anunciados na terça-feira.
Entretanto, as organizações não governamentais e da ONU estão a operar sob o alerta três, com recolher obrigatório às cinco da tarde e subsídio extra de risco.
A ONU elaborou um plano de contingência para evacuar 10500 estrangeiros no caso de violência pós-eleitoral. Menos eu!

José Vieira (missionário no Sul do Sudão)
17 de Abril 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Zimbabué aguarda a ressurreição


Entrevista com Dom Dieter Scholz
CHINHOYI, domingo 18 de abril de 2010 (ZENIT.org).- Zimbabué, na língua local, significa “casa de pedras”. Hoje, esta casa foi derrubada, afirma o bispo de Chinhoyi.
Dom Dieter Scholz afirma que, em seu país, o desemprego estima-se em 80% e, se as pessoas têm um salário, apenas compram com ele uma barra de sabão ou três sacos pão.
Nesta entrevista concedida ao programa de televisão “Deus chora na Terra”, de Catholic Radio and Television Network (CRTN), em colaboração com Ajuda à Igreja que Sofre, o bispo falou sobre a situação de seu país.
–Como descreveria a situação dos cidadãos do Zimbabué?
–Dom Scholz: Creio que é justo dizer que muitos – talvez a maioria do povo do Zimbabué – perderam a esperança em que as coisas possam mudar. Esperaram a maior parte da última década, dez anos, a que seu sofrimento, sua fome, seu desemprego, sua pobreza, seus sofrimentos de diversas enfermidades, que não se conseguem tratar nos hospitais, a que tudo isso acabe. Houve muitas tentativas de remediar a situação, mas tudo falhou de alguma forma.
–Que histórias pessoais pode nos contar para dar ideia do sofrimento atual?
–Dom Scholz: Durante a crise entre as eleições gerais de março de 2008 e a assim chamada suposta eleição presidencial de junho, nesses três meses, houve uma tentativa de eliminar fisicamente a oposição ao partido no governo, o Movimento para a Mudança Democrática. Para eliminar tal oposição, através de agressões, tortura e assassinatos, em uma de minhas paróquias, em Banket, apenas a 20 quilómetros de Chinhoyi, um jovem que era nosso líder juvenil, Joshua Bakacheza, foi sequestrado em maio. Ele já estava se escondendo. A única coisa que tinha feito, em termos de ligação com a oposição, era ter trabalhado como motorista para o Movimento para a Mudança Democrática.
Foi sequestrado um dia, e para encontrá-lo – porque tinha entrado na clandestinidade – os agentes da Polícia de Segurança do Estado foram visitar seu irmão menor no horário escolar, e lhe disseram: “estamos aqui porque encontramos um doador para oferecer-te uma bolsa que te ajudará na escola até o fim de tua educação secundária”. Como imaginavam, prontamente o irmão menor ligou para o maior, pedindo-lhe que viesse para assinar tal contrato de bolsa.
Quando chegou à escola, foi rapidamente preso. Desapareceu e não foi visto em três semanas. Seu corpo, com partes queimadas e mutiladas, foi encontrado próximo de um lugar chamado Beatrice, ao sul de Harare, a capital, e isso causou um enorme sentimento de cólera, tristeza e desespero em toda diocese, onde era muito conhecido.
Este é só um caso, e posso contar-lhe muitos outros de sacerdotes que foram atacados, cujas casas foram incendiadas, porque se presumia que eram simpatizantes da oposição política.
E não entendemos como as diferenças nas posturas políticas podem conduzir a tais crueldades. É um mistério, e ninguém terá dificuldades em acreditar que não só há mal no mundo, mas que é o maligno quem envia espíritos malvados, como diz Santo Inácio na primeira semana de seus exercícios espirituais, um texto que estou familiarizado.
Inácio fala com imagens e linguagem de sua época. Lúcifer que está sentado na Babilônia em um trono de fogo, reunindo os demônios do mundo e enviando-os para cometer o mal.
Durante aqueles três meses que acabo de mencionar, compreendi as imagens e a linguagem que Santo Inácio usou. Eram mais reais do que eu podia imaginar. Vimos o mal percorrendo todo o país, de norte a sul, de leste a oeste.
–Por que o Zimbabué foi escolhido para esta cruz?
–Dom Scholz: Creio que é uma longa história. Como se sabe, os primeiros colonos chegaram no século XIX e conquistaram a terra com a violência, a avareza e o engano. Tiraram as pessoas da terra. Fizeram-nas trabalhar para eles. É verdade que as infra-estruturas que agora temos são fruto do trabalho das pessoas e do conhecimento dos colonos; no entanto, houve muita crueldade, injustiça, ainda que não tão institucionalizada como na África do Sul; houve também segregação racial e discriminação. Isso levou à guerra civil, ao despertar do Movimento Nacionalista Africano. Atualmente há dois movimentos. Robert Mugabe foi o chefe da União Nacional Africana do Zimbabué.
–Na assim chamada Guerra dos Arbustos, verdade?
–Dom Scholz: Sim. A guerra dos arbustos desde o ponto de vista das guerrilhas que representavam os interesses da população local, mas, no entanto, o exército de Rodésia utilizou tecnologia e métodos modernos de guerra apoiado pela África do Sul e, provavelmente por isso, ao final venceu as guerrilhas, porque, em última instância, era uma guerra civil nas matas.
–A terra do Zimbabué tem estado cheia de violência?
–Dom Scholz: Desde a chegada dos colonos até hoje, nunca houve um período de paz serena e tranquila. Sempre houve violência, nem sempre física, às vezes estrutural, através de leis de discriminação que forçavam à pobreza, que privavam as pessoas de voto, de futuro. Mas creio que com as próximas gerações será muito diferente. Conheço as pessoas. Há um grande futuro para o Zimbabué.
–Como vê seu papel como pastor neste momento e que papel tem a Igreja agora que todas as estruturas se desfazem ao redor da Igreja?
–Dom Scholz: Meu papel primário é apoiar os sacerdotes em sua cada vez mais complicada missão. Passaram por um verdadeiro período de perseguição desde a carta pastoral “Deus escuta o grito do oprimido”, publicada no ano passado. Seguindo a tal carta pastoral, nossos sacerdotes foram perseguidos, sobretudo em nossa província.
–Como?
–Dom Scholz: Ligações anónimas, ameaçadoras, insultos dos principais católicos, importantes mulheres católicas de nossa diocese, chamando o presidente do conselho pastoral para lhe dizer que seus sacerdotes – que é o padre que lhe dá a comunhão quando se aproxima a missa dos domingos –, são uns grosseiros, ladrões e bêbados, e se não pararem de falar do modo em que o fazem, verão o que faremos a eles. Este tipo de ameaça.
Creio que este é um desafio pastoral que ainda precisamos enfrentar quando assentar a poeira. Confrontar nossos fiéis e suas consciências com as exigências da fé. As simples exigências da justiça por um lado e a forma em que suportaram o que ocorreu entre março e junho. Também o modo de falar e atuar enquanto vinham à missa.
Não pudemos fazer isso devido às tensões na comunidade cristã mas também na sociedade em geral e devido à intimidação constante à que nos expuseram.
Por isso, eu diria que minha primeira tarefa foi apoiar os sacerdotes quando tiveram de fugir de suas paróquias, como alguns tiveram de fazer. Demo-lhes as boas-vindas na casa do bispo ou no centro de pastoral, assegurando que estariam seguros.
Um primeiro, fui capaz de enviar para a Inglaterra por um período de descanso e recuperação, e lhe seguiram outros dois, poucas semanas depois.
–É tão esgotador o problema entre seus sacerdotes?
–Dom Scholz: Esgotamento, esgotamento físico, mas também esgotamento emocional e psicológico. É difícil imaginar se não se está em uma sociedade fechada como o Zimbabué, em que prevalece a anarquia, e se alguém o ataca verbal ou fisicamente e você vai à polícia para dar queixa, ou se vou a me queixar à polícia, serei preso por alterar a paz e por atacar outras pessoas.
Por isso diria que estes são os principais papéis do bispo, apoiar os sacerdotes e apoiar os fiéis em minhas viagens pela diocese, que cobre a parte norte e noroeste do Zimbabué.
–Até onde querem chegar os bispos, até onde se pode chegar nesta situação?
–Dom Scholz: Não tenho nenhum problema com isso. Durante a guerra de libertação, estive implicado na Comissão Católica Justiça e Paz junto com o bispo Lamont, que era nosso presidente e outros três. Eu fui preso e expulso do país. Dizíamos a verdade então e sinto que agora temos de dizer a verdade, e isso é o que fizemos em nossa carta pastoral. Outra confirmação pela qual creio que abordamos o tema em sua própria base foi a cólera sem precedentes do governo. Estavam furiosos de verdade. E quando nos encontramos com funcionários do governo, não há oportunidade em que não se refiram à chamada carta pastoral. Eles se referem a ela como “a carta pastoral”; ainda que tenhamos escrito uma ou duas cartas pastorais antes.
–E está por chegar a ressurreição?
–Dom Scholz: Sim, e a verdade se escutou em ambos lados.
–Que ocorre com a comunidade internacional? Abandonou o Zimbábue?
–Dom Scholz: Não. Têm havido palavras e atuações de apoio desde todos os cantos do mundo, emails, cartas, doações, pequenas doações, grandes, precisamente quando tínhamos a crise da qual falava, entre as eleições de fins de março e a saída presidencial de junho.
Temos cinco hospitais em nossa diocese e com o colapso do setor da saúde pública, os que foram feridos pelos agentes do Estado vieram a nossos hospitais para se tratar.
Inicialmente inclusive foram rechaçados durante semanas quando buscavam conseguir ajuda médica, mas quando vieram com feridas enormes em seus corpos – podia-se por o punho nas feridas – nós apenas tínhamos remédios, e essa foi a época em que o padre Halamba veio, de Ajuda à Igreja que Sofre, e enquanto lhe expus a situação, em alguns dias fez a doação mais generosa possível de remédios, o que nos permitiu abastecer os hospitais.
–Não está cansado com o que está acontecendo em seu país?
–Dom Scholz: Obviamente estou cansado, e quando, pela tarde, estou esgotado, vou a minha capela esperar que passe ou até que fique em paz e na oração encontro esse equilíbrio.
Mas como se pode estar em paz quando um seminarista do terceiro ano, que está a ponto de ser ordenado diácono, vem me dizer: “Ontem assassinaram meu pai, de 62 anos, porque suspeitavam que era um membro da oposição, mas não era”. Um vizinho que guardava um antigo ressentimento o denunciou à milícia e ela veio com pedaços de pau, bastões e o espancou até a morte, diante de sua esposa.
Como se pode não cansar? Tentaram chamar por telefone a polícia, que disse que não podia abrir a delegacia. Isso é o que quero dizer quando falo de que a verdade terá que sair. Os que cometem estes atos terão de ser nomeados. Terão de enfrentar suas ações e logo poderemos começar o processo de reconciliação, talvez inclusive de amnistia.
Este é o erro, se me permite acrescentar, que cometemos ao terminar a guerra civil, a guerra de libertação. Em um gesto de grande generosidade, e creio que genuíno, Robert Mugabe disse: “Desenharemos aqui uma linha. Não voltaremos ao passado e teremos um novo começo”.
Creio que quando disse isso na véspera da independência, era algo genuíno. Não foi uma trapaça. Conhecia muitos brancos que estavam no caminho para a África do Sul, para emigrar, para fugir pelo que lhes havia dito Ian Smith que lhes faria Robert Mugabe. Conheço uma família que parou à beira da estrada, fez uma oração e, após debater, retornou e seguiu com seus cultivos no país.
Aquilo era muito generoso, mas todos somos seres humanos, e as contas sem ajustar daquela guerra ainda seguem abertas nas comunidades locais.
–Deste modo, não pode haver paz sem justiça?
–Dom Scholz: Não pode haver reconciliação sem a verdade. A verdade tem de vir à tona. Tem de se conhecer. Creio que o perdão se deve pedir para que se possa dar. Em uma comunidade ideal, talvez um poderia dizer: bem, desenhamos uma linha aqui e começamos de novo, mas sendo como somos, sendo quem somos, as feridas do coração curam de forma muito mais lenta que as feridas do corpo. Agora também vejo isso.
–Que apelo faria?
–Dom Scholz: Meu primeiro pedido é que todos sigam rezando pelo Zimbabué, que rezem pela paz, pela valentia dos líderes que perderam as eleições, para que se vão. No interesse do povo e da nação, que outro assuma o poder. As eleições foram uma votação pela mudança. Não foram uma votação de um manifesto elaborado. As pessoas apenas diziam: “estamos cansadas, com fome, estamos sem trabalho, sem escolas, hospitais, queremos mudança”. Se nossos líderes pudessem reconhecer isso e ser o suficientemente generosos para saírem, apesar do medo ao que possam ter de enfrentar, então as orações dos católicos que veem este programa serão escutadas. Seria um milagre, mas um milagre que poderia ocorrer.
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Esta entrevista foi realizada por Mark Riedemann, para “Deus chora na Terra”, um programa semanal produzido por Catholic Radio and Television Network (CRTN), em parceria com a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre (www.aisbrasil.org.br, www.fundacao-ais.pt).
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Na internet:
O vídeo desta entrevista: www.wheregodweeps.org/a-church-punished-for-its-opposition
Para mais informações: www.WhereGodWeeps.org
(Tradução de Alexandre Ribeiro)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Na Europa, 79 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza


BRUXELAS, quinta-feira, 15 de Abril de 2010 (ZENIT.org). – A Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia, COMECE, abriu nesta terça-feira sua Assembleia Plenária de primavera com uma conferência de seu presidente, Adrianus van Luyn, bispo de Roterdão, na qual destacou que o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza na Europa já chega a 79 milhões.
O tema central da assembleia, da qual participam os 21 bispos membros, é “2010, Ano Europeu para o Combate à Pobreza e à Exclusão Social”.
Em sua conferência, o presidente da COMECE lembrou que em Dezembro 2009 entrou em vigor o Tratado de Lisboa, e falou dos próximos desafios a serem enfrentados pelo novo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, expressando sua satisfação com fato deste “ter aceitado o convite de tomar a palavra diante de nossa Assembleia Plenária”.
Sobre o diálogo entre a União Europeia e as várias Igrejas e comunidades religiosas, existente desde 2006, afirmou que “não se trata de inventar ou estabelecer este diálogo, mas sim de dotá-lo de instrumentos que permitam ampliar o diálogo já existente e fazer dar fruto aquilo que já foi desenvolvido lentamente”.
O presidente da COMECE destacou também sua própria “decepção” relativamente aos modestos resultados alcançados na Cúpula para o Clima de Copenhaga.
Sobre o Ano Europeu para o Combate à Pobreza e à Exclusão Social, Dom van Luyn afirmou que “os sistemas de segurança social na União Europeia são os mais avançados do mundo. Mesmo assim, muitos europeus ainda vivem abaixo da linha de pobreza”. As causas, segundo o bispo, são muito complexas, mas os números falam por si mesmos.
79 milhões de pessoas na Europa – 16% da população – vivem hoje abaixo dessa linha. Um em cada dez europeus vive em uma família na qual ninguém está empregado. Mesmo trabalhando, porém, o risco de pobreza não é eliminado: esta é a situação de cerca de 8% da população economicamente ativa da Europa. A crise económica e financeira provocou um aumento no índice de desemprego entre os países da União Europeia.
As crianças são mais afetadas que os adultos: mais de 19 milhões de crianças europeias são consideradas “sob risco de pobreza”.
O presidente da COMECE afirmou que o organismo se dedicará ao tema “de modo ainda mais profundo” durante a assembleia. Já há um grupo de trabalho em atividade envolvendo representantes da COMECE, da Conferência das Igrejas Europeias (KEK), da Cáritas Europa e de outras instituições, que colaboram na elaboração de um documento comum sobre o fenómeno da pobreza que incluirá propostas de políticas concretas para combatê-la.
Referindo-se ainda ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o bispo afirmou que nas últimas semanas foram dados “passos concretos que reforçam nossa esperança”. Em 8 de abril, lembrou o prelado os presidentes Obama e Medvedev firmaram em Praga um compromisso com um “novo início”. “Tudo isso nos leva a crer que as negociações de revisão do Tratado, previstas para Maio, conduzirão a novos progressos no desmantelamento dos arsenais nucleares”, sublinhou.
Sobre a crise económica e financeira, após ter mencionado a crise na Grécia e suas repercussões na Europa, o prelado indagou sobre a contribuição que os bispos poderiam oferecer. “Sem serem especialistas”, assinalou, “devemos dar uma contribuição que se concentre nos aspectos mais fundamentais, evitando os aspectos mais técnicos sobre como superar a crise”.
“Partindo da Doutrina Social da Igreja, não podemos chegar a outra conclusão que não esta: a crise tem origem numa priorização de valores inadequada. Quando se desconsidera o princípio do bem comum, a ordem moral perde sentido”.
A crise, acrescentou, “nos impõe o desafio de rever nossos modelos para que possamos nos concentrar no que é essencial: preservar a dignidade humana e o bem comum, tanto para a nossa geração quanto para as vindouras”.
O presidente da COMECE assinalou ainda que “é fundamental restabelecer a justa medida das coisas, o equilíbrio entre as várias polaridades”, “o equilíbrio na compreensão do homem, de um lado, indivíduo livre, e de outro, uma pessoa que vive em relação com os demais”.
“Há uma tensão entre a legalidade – aquilo que é permitido pela lei – e a justiça. O que é legal no sentido jurídico pode não ser justo, isto é, em termos de justiça e morais”.
O prelado concluiu sua intervenção propondo aos bispos o enviou de uma carta ao Santo Padre, congratulando-o pela ocasião do quinto aniversário de sua eleição, expressando “nossos melhores votos e nossa gratidão pela sua contribuição incansável para a Europa cristã”.

Por Nieves San Martín

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Paz em risco no Sudão - relatório do Denis Hurley Peace Institute


Cartum (Agência Fides)- Paz em risco no Sudão? É a pergunta do relatório apresentado dia 30 de março pelo Denis Hurley Peace Institute, promovido pela Southern African Catholic Bishops Conference (SACBC), Conferência Episcopal que reúne os Bispos da África do Sul, Botsuana e Suazilândia.

O relatório é uma análise da situação no Sudão, cinco anos depois do acordo de paz global que conclui 22 anos de guerra civil. O artigo foi escrito por John Ashworth, analista político que há muito tempo se ocupa do Sudão. O artigo examina o aumento da violência no sul do Sudão, a marginalização dos líderes do sul no governo de unidade nacional e a persistência da atitude de desconfiança das elites e populações do sul em relação ao poder islâmico do norte. Segundo o relatório, estes fatores podem deturpar o processo de paz, enquanto o país se encaminha para as primeiras eleições gerais previstas para abril e o referendo sobre a autodeterminação do Sul de 2011.

Nem todos os observadores de questões sudaneses são tão pessimistas. Em uma recente entrevista à Fides Dom Leo Boccardi, Núncio Apostólico no Sudão e na Eritréia, expressou uma avaliação mis cautelosa e aberta à esperança de paz.

(Agência Fides 30/3/2010)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Eleições fraudulentas no Sudão


O Governo de Cartum está a manipular as eleições de 11 a 13 de Abril, no Darfur, a fim de voltar a dar o poder a um presidente acusado de crimes e o seu partido, com consequências catastróficas para o Sudão.
Apesar da ameaça de última hora de boicote por parte dos partidos da oposição, Eleições no Darfur e as consequências de uma provável Vitória do NCP no Sudão, o mais recente briefing do grupo internacional de crise, analisa a forma como o National Congress Party (NCP) manipulou os censos 2008, as leis eleitorais e os distritos eleitorais em seu favor, elegeu os líderes tradicionais e comprou favores tribais. Fê-lo por todo o Sudão, mas de forma mais dramática no Darfur, onde tem mais liberdade e meios para aplicar a sua estratégia devido ao conflito presente. Ganhar com uma grande margem no Darfur é um dos objectivos do plano do NPC para obter votos suficientes no Norte, a fim de assegurar o seu domínio nacional.
“Não existe um ambiente legal para eleições livres e justas”, afirma Fouad Hikmat, conselheiro especial do Sudão para o Grupo de Crise. “A comunidade internacional deve ter conhecimento que quem quer que ganhe não tem legitimidade”.
Os resultados fraudulentos dos censos 2008 foram utilizados para atrair distritos eleitorais, dividir lugares na assembleia e organizar o registo eleitoral de forma a favorecer o NCP. Os falsificadores dos censos esforçaram-se bastante para calcular o número de apoiantes do partido no Darfur. Consta que os recém-chegados do Chade e do Níger receberam documentos de identificação a fim de poderem votar como cidadãos sudaneses. A maioria dos 2,6 milhões de deslocados que vivem nos campos, bem como indivíduos de grupos hostis ao NCP que vivem em bairros “inseguros” e a população de áreas controladas pelos rebeldes não foram contabilizados.
As missões de observação da União Europeia, da União Africana e do Carter Center podem ter ajudado a evitar a mais flagrante fraude eleitoral, mas grande parte da manipulação já tinha acontecido. Além disso, os observadores irão apenas avaliar a qualidade das eleições e não se espera que façam qualquer tipo de recomendação. O Presidente Omar al-Bashir, que tem uma acção criminal no Tribunal Penal Internacional, acusado de vários crimes atrozes no conflito de Darfur, e o NPC certamente irão ganhar as eleições presidenciais e legislativas, mas compete aos governos e às organizações intergovernamentais agir a fim de limitar os danos.
Para além de demonstrar claramente que o mandato da parte vitoriosa não é verdadeiramente democrático, têm de continuar imediatamente após as eleições e insistir que qualquer acordo de paz em Darfur estipula um novo censos, registo de eleitores e eleições nacionais. A União Africana, as Nações Unidas, o Intergovernmental Authority on Development (IGAD) regional e outros apoiantes internacionais importantes do acordo de paz que puseram fim, em 2005, à longa guerra civil entre o Norte e o Sul deveriam pressionar o Governo de Cartum e o Governo do Sul do Sudão a concordar relativamente aos passos críticos necessários a fim de assegurar um referendo pacífico pela auto-determinação no Sul, em Janeiro de 2011, e proporcionar estabilidade tanto no Norte como no Sul no rescaldo do referendo.
“Uma vez que as eleições de Abril irão impor autoridades oficiais ilegítimas através de actos manipuladores, os habitantes do Darfur terão pouca ou nenhuma esperança de uma mudança pacífica do status quo”, avisa EJ Hogendoorn, Director do Projecto Crisis Group’s Horn. “Em contrapartida, muitos irão procurar ajuda junto dos grupos rebeldes, a fim de lutarem e reconquistarem os seus direitos e terras perdidos.”

Para ler o comunicado completo do Crisis Group consultar o site: http://www.crisisgroup.org