segunda-feira, 31 de agosto de 2009

III Conferência Mundial sobre o Clima, em Genebra


Representantes de 150 países discutem, em conferência mundial, medidas para se adaptarem às alterações climáticas e reduzirem impacto das mudanças
O presidente do Instituto de Meteorologia, Adérito Serrão, informou ontem que "a temperatura média em Portugal está a subir a uma razão superior à da Europa (0.4º Celsius por década, desde 1970)", justificando o interesse em participar na III Conferência Mundial sobre o Clima, em Genebra.
Peritos em ambiente e responsáveis políticos de 150 países participam a partir de hoje no encontro, onde deverá ser criado um quadro global para os serviços de clima que reuna dados de observação e investigação à escala mundial.
O objectivo final é ajudar os governos, através do aperfeiçoamento dos serviços de observação do clima, a adoptar medidas que ajudem os países a adaptar-se da melhor forma às alterações climáticas e a reduzir o impacto destas mudanças, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a entidade organizadora do encontro, que decorre na Suíça entre 31 de Agosto e 4 de Setembro.
Portugal será representado nesta conferência pelo presidente do IM e pelo secretário de Estado do Ambiente.
Adérito Serrão, que presidente também ao Centro Europeu de Previsão a Médio Prazo, adiantou que "cada vez mais se reconhece que há uma ligação bastante provável entre a elevação das temperaturas e a acção humana", sugerindo a necessidade de serem tomadas medidas que diminuam as emissões de gases.
De acordo com o presidente do IM, esta conferência vem na sequência de outras realizadas nas décadas de 70 e 90 e "ganhou agora importância e actualidade atendendo às manifestas alterações que o clima está a sofrer a nível global".
In: http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1348921&seccao=Biosfera

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Modelo de desenvolvimento respeitoso do ambiente - Bento XVI


CASTEL GANDOLFO, quarta-feira, 26 de Agosto de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a intervenção que Bento XVI pronunciou nesta quarta-feira, durante a audiência que concedeu aos peregrinos reunidos no pátio da residência pontifícia de Castel Gandolfo, na qual tratou do tema da salvaguarda da criação.
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Queridos irmãos e irmãs:
Já nos aproximamos do final do mês de agosto, que para muitos significa a conclusão das férias de verão. Enquanto voltamos às atividades cotidianas, como não agradecer a Deus pelo dom precioso da criação, da qual podemos desfrutar não somente durante as férias? Os diferentes fenômenos de degradação ambiental e as calamidades naturais, que as crônicas registram infelizmente com frequência, recordam-nos a urgência do respeito devido à natureza, recuperando e avaliando, na vida de todos os dias, uma correta relação com o ambiente. Está se desenvolvendo uma nova sensibilidade por estes temas, que sustentam a justa preocupação das autoridades e da opinião pública, que se expressa com a multiplicação de encontros no âmbito internacional.
A terra é um dom belíssimo do Criador, que desenhou sua ordem intrínseca, dando-nos assim os sinais orientadores aos quais devemos ater-nos como administradores da sua criação. A partir desta consciência, a Igreja considera as questões ligadas ao ambiente e à sua salvaguarda como intimamente relacionadas com o tema do desenvolvimento humano integral. A estas questões me referi várias vezes em minha última encíclica, Caritas in veritate, recordando a “urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade” (n. 49), não somente nas relações entre os países, mas também entre cada um dos homens, pois o ambiente natural é dado por Deus a todos e sua utilização comporta uma responsabilidade pessoal com toda a humanidade, particularmente com os pobres e com as gerações futuras (cf. n. 48). Experimentando a comum responsabilidade pela criação (cf. n. 51), a Igreja não somente está comprometida na promoção da defesa da terra, da água e do ar, entregues pelo Criador a todos, mas sobretudo se empenha em proteger o homem da destruição de si mesmo. De fato, “quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental” (n. 51). Acaso não é verdade que a utilização desconsiderada da criação começa justamente onde Deus é marginalizado ou inclusive onde lhe é negada a existência? Se a relação da criatura com o Criador desfalece, a matéria se reduz a possessão egoísta, o homem se converte na “última instância” e o objetivo da existência se reduz a uma corrida para possuir sempre mais e mais.
A criação, matéria estruturada de maneira inteligente por Deus, está confiada à responsabilidade do homem, que é capaz de interpretá-la e de remodelá-la ativamente, sem considerar-se como o dono absoluto. O homem está chamado a exercer um governo responsável para custodiá-la, obter benefícios e cultivá-la, encontrando os recursos necessários para uma existência digna para todos.
Com a ajuda da própria natureza e com o compromisso do próprio trabalho e criatividade, a humanidade é capaz de assumir o grave dever de entregar às novas gerações uma terra que estas, por sua vez, poderão habitar dignamente e cultivar ulteriormente (cf. n. 50). Para que isso se realize, é indispensável o desenvolvimento dessa “aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus” (Mensagem para a celebração do dia Mundial da Paz 2008, 7), reconhecendo que todos nós procedemos de Deus e que estamos em caminho rumo a Ele.
Que importante é, portanto, que a comunidade internacional e os diferentes governos saibam dar os sinais adequados aos próprios cidadãos para enfrentar de maneira eficaz as modalidades de utilização do meio ambiente que são prejudiciais. Os custos económicos e sociais derivados do uso dos recursos ambientais comuns, reconhecidos de maneira transparente, devem ser assumidos por aqueles que os utilizam, e não por outras populações ou por gerações futuras. A proteção do ambiente e a salvaguarda dos recursos e do clima exigem que todos os líderes ajam de maneira conjunta, respeitando a lei e promovendo a solidariedade, sobretudo com as regiões mais frágeis da terra (cf. Caritas in veritate, 50).
Juntos podemos construir um desenvolvimento humano integral em benefício dos povos presentes e futuros, um desenvolvimento nos valores da caridade na verdade. Para que isso aconteça, é indispensável converter o atual modelo de desenvolvimento global em uma conscientização maior e compartilhada diante da criação: isso é uma exigência não somente das emergências ambientais, mas também do escândalo da fome e da miséria.
Queridos irmãos e irmãs: demos graças ao Senhor e façamos nossas as palavras de São Francisco, no Cântico das Criaturas: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, vossos são os louvores, a glória e a honra de toda bênção (...). Louvado sejais, meu Senhor com todas as vossas criaturas”.
Também nós queremos rezar e viver com o espírito destas palavras.
[Tradução: Aline Banchieri
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

sábado, 1 de agosto de 2009

Alertar para o drama humanitário no Darfur



Na passada terça-feira, 28 de Julho, a Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Lisboa, recebeu algumas dezenas de pessoas que não quiseram perder a oportunidade de conhecer o Padre Feliz, dos Missionários Combonianos, em Portugal depois de mais uma temporada na região de Nyala, no Darfur. A visita do Missionário deu o mote para a Plataforma por Darfur, da qual a Amnistia Internacional Portugal faz parte, promover uma mesa redonda que visa alertar para o problema humanitário que se continua a viver nesta região sudanesa.No início da sessão, o Padre Leonel, também dos Missionários Combonianos, apresentou o orador principal, que soma já quase 20 anos de vivência no Sudão. Desde 2006 que o Padre Feliz se encontra na região do Nyala, na parte sul do Darfur, uma das zonas mais pobres do país (e do mundo). A poucos quilómetros fica um dos maiores campos de refugiados da região, conhecido por Kalma, onde estão entre 90 a 100 mil deslocados internos. Foi sobre tudo o que viveu e experienciou até hoje no Darfur que o Padre Feliz veio falar, sem receios ou tabus.O Darfur de hoje

Padre Feliz


Para que todos os presentes ficassem desde logo a par da realidade no Darfur, a mesa redonda contou com a presença do jornalista Paulo Moura, que esteve na região em 2004 e conseguiu, em poucas palavras, sumarizar tudo o que testemunhou. Primeiro, as violações, quando as mulheres saem dos campos de deslocados para apanhar lenha ou quando estão sem qualquer forma de protecção. O problema, explica o Padre Feliz, é que “ser violada é uma desonra” no Sudão, passando estas mulheres a serem desprezadas pelos seus familiares. Por vergonha, também não vão ao médico, o que muitas vezes resulta em morte.Para além destas, há muitas outras pessoas que morrem diariamente em resultado do conflito entre as milícias Janjaweed, o Governo e os rebeldes, acrescentou Paulo Moura. Muitos, refere o Padre Feliz, ficam por sepultar, o que para além de ser um risco para a saúde pública, é moralmente dramático, pois, tal como os católicos, os sudaneses têm rituais de sepultura essenciais à paz interior. A somar a tudo isto, continua o jornalista, há no Darfur epidemias e centenas de feridos que, por falta de médicos, acabam por engrossar o número de mortos. Diária é também a insegurança, conclui Paulo Moura, explicando assim o que viu em 2004.


Desde então, entrou no Sudão uma força de manutenção da paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Africana, denominada UNAMID, mas o Padre Feliz garante que ao ouvir o jornalista achou que se referia aos dias de hoje. No Darfur pouco mudou, continua, apontando duas alterações apenas. Primeiro, “as milícias Janjaweed actuam hoje de forma diferente, pois antigamente passeavam-se de camelo, armados. Hoje puseram um uniforme e não têm uma unidade”, diz, contando como um dia deu boleia a um elemento da milícia pensando que era um soldado comum.A segunda grande diferença, indica o Padre Feliz, é que “há hoje três grupos de rebeldes, subdivididos em mais de 20 ou 30 subgrupos. Era gente de Darfur, que estava unida pelo seu povo. Agora estão divididos”. É por isso que, conta, os conflitos surgem hoje sem aviso prévio e em qualquer lugar. “Os vários grupos quando se encontram começam rixas que se transformam em verdadeiras guerras. E elas surgem sem sabermos como. Não é possível prever”, diz. É por isso que afirma, em jeito de conclusão: “a palavra hoje no Darfur é anarquia”.As razões do conflito Para o Padre Feliz, “a única forma de acabar com o conflito no Darfur é desarmando, porque há gente que não devia estar armada”. E o Missionário não hesita em apontar o dedo à China, enquanto principal fornecedor de armas para o Sudão, ajudando a incendiar o conflito. Pedro Matos, que está com uma força da ONU no terreno desde o início do ano, aproveitou para sair do seu lugar na plateia e explicar com maior detalhe a origem da guerra, que remonta a 2003 mas têm raízes ancestrais, uma vez que, como diz o Padre Feliz: “O Sudão está mal desenhado, como tantos outros países de África. Foi feito a régua e esquadro”. Na divisão, dois povos ficaram a partilhar um mesmo território: os de origem árabe, mais a Norte, e os de origem africana, mais a Sul e, mais concretamente, no Darfur.


Estes últimos sentiram-se sempre discriminados face aos árabes, mas existia uma convivência pacífica, diz Pedro Matos. Quando as secas levaram os árabes a procurar alimento (ou o petróleo que hoje se sabe existir) nas terras do Darfur, começou uma rebelião africana que chegou à capital, Cartum, onde está o Governo ditatorial e de origem árabe (vigente desde os anos 50). Omar al-Bashir, presidente do país, controlou a multidão perseguindo os rebeldes e toda a etnia de que eram originários. Fechou então o Darfur ao exterior e entre Abril e Setembro de 2003 promoveu uma verdadeira limpeza étnica, dando armas aos árabes para que atacassem as aldeias africanas e eliminassem esta população.A proliferação das armas fez com que o conflito evoluísse de tal forma que foge hoje ao controlo do próprio al-Bashir, defende Pedro Matos, apontando os rebeldes que tinham já sido mencionados pelo Padre Feliz. Este continua: “hoje já não há aldeias para queimar, porque já estão queimadas ou destruídas”. Apesar disso, os deslocados continuam a ser incentivados a voltarem às suas terras, “pois há mais paz, mas não há nada a que estas pessoas se possam apegar. Quase não há escolas e não há desenvolvimento”, afirma. Factos que colocam o Sudão nos lugares mais baixos do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.Uma realidade que se vive ainda hoje no Darfur e que a Plataforma por Darfur começou a combater em 2007, com a criação do projecto “Uma Escola para Nyala”. Com a venda do CD de música “Frágil-Artistas Portugueses por Darfur” e de contributos individuais, foi possível reunir um forte contributo para criação daquela que é actualmente a melhor instituição de ensino da região, onde estudam cerca de 900 alunos. É através da educação que se vai tentar mudar o futuro da região e das sete milhões de pessoas afectadas pelo conflito.




Mais Informações: A Plataforma por Darfur


Em Agosto de 2007 várias organizações da sociedade civil, entre elas a Amnistia Internacional Portugal e os Missionários Combonianos, uniram-se para criar a denominada Plataforma por Darfur. O objectivo é sensibilizar os portugueses para o drama humanitário que ainda se vive no Sudão e hoje, para além das organizações mencionadas, fazem também parte desta associação a Antena Fé Justiça Europa-África, a Comissão de Justiça e Paz dos Institutos Religiosos ou Mãos Unidas Padre Damião, a Fundação AIS e a Fundação Gonçalo da Silveira. Saiba mais no site oficial da Plataforma por Darfur.